Li outro dia que Tarantino, o renomado diretor de Cães de Aluguel, sempre que arranja uma nova namorada tem por costume mostrar à garota o filme Rio Bravo. Se ela não gosta, termina o relacionamento. Faço isso com Cinema Paradiso e, felizmente, nunca tenho me decepcionado. É termômetro de inteligência e sensibilidade. Mas, voltando ao clássico do western, é mesmo maravilhoso. Esta semana, revi-o com Carolina, minha filha, a quem, sempre que posso, tenho apresentado a fina flor do cinema. Lembro que assisti ao filme de Haward Howks ainda menino, no Cine Alvorada, em Iguatu, pelas mãos de um irmão que era o maior cinéfilo da cidade naqueles tempos.
É a história de um xerife que prende um assassino, irmão de um fazendeiro rico e poderoso, a quem tem de enfrentar (e às dezenas de comparsas) contando apenas com a ajuda de um alcoólatra e um velho manco, aos quais se somará um quarto homem da metade da película em diante. Acho que é um dos filmes que melhor discutem, entre outros temas, o companheirismo e a lealdade. Para não falar do drama do alcoolismo e a devastação que ocasiona na vida de um homem. A cena em que os quatro, recolhidos a uma sala da cadeia, preenchem o tempo cantando e tocando violão é inesquecível. O roteiro, soberbo.
A propósito, dia desses participei de uma mesa-redonda sobre cinema em que cada debatedor tinha de apontar os filmes que mais lhe marcaram em todos os tempos. Não hesitei: entre aqueles que ficaram, que fizeram despertar em mim o cine-entusiasta que sou, está Rio Bravo, que, no Brasil, agora recordo, foi exibido com o nome de Onde Começa o Inferno.
Essa coisa de 'os dez', 'os cem mais', nunca é infalível e costuma se curvar aos caprichos da memória e das subjetivações de circunstância. Lembro que mencionei alguns que aparecem com mais frequência nas minhas seleções: Janela Indiscreta, Os Incompreendidos, Ladrões de Bicicleta, Acossado, Viagem à Itália, Casablanca, Morangos Silvestres, para lembrar dos que dificilmente esqueço. E Hiroshima, Mon Amour, que considero uma das maiores revoluções estéticas do cinema.
A história, sabe-se, é a um tempo simples e complexa: uma atriz francesa está no Japão para as gravações de um filme sobre os horrores da guerra e conhece um arquiteto, casado, como ela, com quem vive uma aventura amorosa de poucas horas. A paixão, todavia, é desconcertante, o bastante para começar a apagar nela as recordações dolorosas de um amor antigo: durante a ocupação alemã na França, ela se apaixonara perdidamente por um soldado inimigo que é assassinado pelos resistentes após a libertação. O filme, assim, fala da superação da dor e do sofrimento, e da capacidade humana de apagar sentimentos que parecem inapagáveis. O final é aberto e não se pode afirmar que ela volte para o marido que a espera em Paris. Na última sequência, contudo, ele faz para a amante uma declaração que sou capaz de repetir de cor: - "Em alguns anos, quando eu a tiver esquecido e outras histórias como essa, por força do hábito, tiverem acontecido, eu me lembrarei de você como um símbolo do esquecimento até mesmo do amor mais louco." Não é sem razão que o roteiro é assinado por ninguém menos que Marguerite Duras, a dama do amor perdido.
É a história de um xerife que prende um assassino, irmão de um fazendeiro rico e poderoso, a quem tem de enfrentar (e às dezenas de comparsas) contando apenas com a ajuda de um alcoólatra e um velho manco, aos quais se somará um quarto homem da metade da película em diante. Acho que é um dos filmes que melhor discutem, entre outros temas, o companheirismo e a lealdade. Para não falar do drama do alcoolismo e a devastação que ocasiona na vida de um homem. A cena em que os quatro, recolhidos a uma sala da cadeia, preenchem o tempo cantando e tocando violão é inesquecível. O roteiro, soberbo.
A propósito, dia desses participei de uma mesa-redonda sobre cinema em que cada debatedor tinha de apontar os filmes que mais lhe marcaram em todos os tempos. Não hesitei: entre aqueles que ficaram, que fizeram despertar em mim o cine-entusiasta que sou, está Rio Bravo, que, no Brasil, agora recordo, foi exibido com o nome de Onde Começa o Inferno.
Essa coisa de 'os dez', 'os cem mais', nunca é infalível e costuma se curvar aos caprichos da memória e das subjetivações de circunstância. Lembro que mencionei alguns que aparecem com mais frequência nas minhas seleções: Janela Indiscreta, Os Incompreendidos, Ladrões de Bicicleta, Acossado, Viagem à Itália, Casablanca, Morangos Silvestres, para lembrar dos que dificilmente esqueço. E Hiroshima, Mon Amour, que considero uma das maiores revoluções estéticas do cinema.
A história, sabe-se, é a um tempo simples e complexa: uma atriz francesa está no Japão para as gravações de um filme sobre os horrores da guerra e conhece um arquiteto, casado, como ela, com quem vive uma aventura amorosa de poucas horas. A paixão, todavia, é desconcertante, o bastante para começar a apagar nela as recordações dolorosas de um amor antigo: durante a ocupação alemã na França, ela se apaixonara perdidamente por um soldado inimigo que é assassinado pelos resistentes após a libertação. O filme, assim, fala da superação da dor e do sofrimento, e da capacidade humana de apagar sentimentos que parecem inapagáveis. O final é aberto e não se pode afirmar que ela volte para o marido que a espera em Paris. Na última sequência, contudo, ele faz para a amante uma declaração que sou capaz de repetir de cor: - "Em alguns anos, quando eu a tiver esquecido e outras histórias como essa, por força do hábito, tiverem acontecido, eu me lembrarei de você como um símbolo do esquecimento até mesmo do amor mais louco." Não é sem razão que o roteiro é assinado por ninguém menos que Marguerite Duras, a dama do amor perdido.
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