Ainda lembro: o Cine Alvorada, localizado no quadrilátero que hoje compõe o grande centro da cidade, ficou lotado. Em algumas sessões, as filas arrodeavam o quarteirão. Eles já eram um fenômeno mundial e, quase meninos, sabíamos de cor as letras em inglês de alguns dos seus principais sucessos. As meninas, então, pareciam enlouquecidas diante da possibilidade de ver (a tevê não chegara à cidade) a imagem daqueles quatro rapazes que, da noite para o dia, haviam conquistado o mundo com seus instrumentos mágicos e suas cabeleiras esvoaçantes. Os reis do iê-iê-iê, era como se chamava o filme. O ano, não lembro com precisão, algo em torno de 1967, 68... The Beatles, os garotos de Liverpool, já eram amados mesmo na provinciana e pequenina Iguatu de tempos que já vão longe.
Esta semana, 'meio' que garimpando preciosidades do cinema, consegui em DVD o filme inesquecível de Richard Lester. Revi-o, em princípio, com os olhos do saudosista, que traz no peito as recordações de uma adolescência como não se vive mais. Em seguida, agora com os olhos do estudioso de cinema, pude reparar na importância da obra em termos de transgressões estéticas levadas a efeito por um cineasta criativo e enormemente talentoso. Há em Os reis do iê-iê-iê experimentos de linguagem que viriam tomar conta do cinema e da tevê: os jump cut à maneira de Godard, a câmera nervosa, com que o diretor do filme consegue obedecer o ritmo excitado e histérico dos fãs, tudo, tudo no filme permanece atual, dando-nos, aos que éramos pouco mais que crianças à época do seu lançamento, uma emoção sem nome. Milagres da sétima arte.
O filme começa com uma sequência magistral, os rapazes de Liverpool em meio a uma multidão delirante numa estação de trem. A música-tema, A Hard Day's Night, explodindo aqui e ali, entra pelos ouvidos do espectador para rapidamente chegar à alma. A sensação é que voltamos no tempo, e outra vez sinto-me o adolescente de 12, 13 anos do velho Cine Alvorada. Naquela que é, talvez, a mais bela cena do filme, a câmera baixa acompanha a descida enfurecida dos quatro jovens por uma escada de incêndio. Pura arte de filmar.
Os acordes atrevidos de George Harrison, com sua guitarra de doze cordas, a uma dada altura do filme parecem tomar conta de nós. O tempo pára e, em passe de mágica, voltamos mesmo a um mundo em que ainda se podia sonhar: "Can`t Buy Me Love", "I Should Have Known Better", "All My Loving", "She Loves You", "I Wanna Be Your Man"... Canções que ressurgem em nossos corações como se ainda tivéssemos a mesma energia e a mesma coragem de peitar o desconhecido, num tempo em que as palavras de ordem eram amor e paz. Os beatles vestiam-se iguais, em algumas passagens quase não se podem distinguir seus rostos. Pouco importa, ali estão todos os John, George, Paul e Ringo que existem em cada coração que ama.
Esta semana, 'meio' que garimpando preciosidades do cinema, consegui em DVD o filme inesquecível de Richard Lester. Revi-o, em princípio, com os olhos do saudosista, que traz no peito as recordações de uma adolescência como não se vive mais. Em seguida, agora com os olhos do estudioso de cinema, pude reparar na importância da obra em termos de transgressões estéticas levadas a efeito por um cineasta criativo e enormemente talentoso. Há em Os reis do iê-iê-iê experimentos de linguagem que viriam tomar conta do cinema e da tevê: os jump cut à maneira de Godard, a câmera nervosa, com que o diretor do filme consegue obedecer o ritmo excitado e histérico dos fãs, tudo, tudo no filme permanece atual, dando-nos, aos que éramos pouco mais que crianças à época do seu lançamento, uma emoção sem nome. Milagres da sétima arte.
O filme começa com uma sequência magistral, os rapazes de Liverpool em meio a uma multidão delirante numa estação de trem. A música-tema, A Hard Day's Night, explodindo aqui e ali, entra pelos ouvidos do espectador para rapidamente chegar à alma. A sensação é que voltamos no tempo, e outra vez sinto-me o adolescente de 12, 13 anos do velho Cine Alvorada. Naquela que é, talvez, a mais bela cena do filme, a câmera baixa acompanha a descida enfurecida dos quatro jovens por uma escada de incêndio. Pura arte de filmar.
Os acordes atrevidos de George Harrison, com sua guitarra de doze cordas, a uma dada altura do filme parecem tomar conta de nós. O tempo pára e, em passe de mágica, voltamos mesmo a um mundo em que ainda se podia sonhar: "Can`t Buy Me Love", "I Should Have Known Better", "All My Loving", "She Loves You", "I Wanna Be Your Man"... Canções que ressurgem em nossos corações como se ainda tivéssemos a mesma energia e a mesma coragem de peitar o desconhecido, num tempo em que as palavras de ordem eram amor e paz. Os beatles vestiam-se iguais, em algumas passagens quase não se podem distinguir seus rostos. Pouco importa, ali estão todos os John, George, Paul e Ringo que existem em cada coração que ama.
Numa sequência antológica, os quatro jovens correm pelas ruas de Londres, livres e soltos, como garotos inocentes e puros. A uma dada altura, a afirmação: - "Sou um enganador!", diz Ringo a um repórter que lhe perguntara se são rapazes revoltados ou roqueiros. Enganadores, sim, porque nos faziam acreditar que "o dinheiro não pode comprar amor" (Money can't buy love!), como está numa das mais belas canções do filme.
Olá, Álder!
ResponderExcluirO que posso eu dizer desse texto maravilhoso senão que é da alma, que veio do fundo das tuas mais doces experiências de garoto, que já tivemos todos nós homenzarrões. Parabéns pela emoção sutil, mas singela, que mesmo há 14 anos sem te ver (e sem ter vivido tua época), pude perceber no texto. Mais uma vez, parabéns! Assim como é impossível lembrar de Senna sem falar de Prost e vice-versa, assim também é impossível falar de música sem lembrar deles... Os...
Abraços!!