segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Gonzaga, de pai para filho

Tinha voltado de Fortaleza para BH ainda marcado pela leitura de uma biografia musical de Luiz Gonzaga com que o amigo Cesar Lincoln me presenteara. Por coincidência, deparo aqui com a estreia de Gonzaga, de pai para filho, o belo filme de Breno Silveira. Arrisco ir mais longe, talvez contra a crítica especializada, que, obtusa, parece inclinada a desqualificar o segundo longa de Silveira por considerá-lo piegas: 'o belíssimo filme de Breno Silveira'.
 
O que mais me impressionou, já a princípio, foi o fato de não se tratar de uma biografia, apenas, de Luiz Gonzaga, algo na linha do que fez em livro, com reconhecida correção, Bené Fonteles, com O Rei e o Baião, que serve de esteio para o competente roteiro de Patrícia Andrade. Não. O filme tem seu núcleo dramático central pontuado num acerto de contas entre pai e filho, ou seja, Gonzagão e Gonzaguinha, o que extrapola as fronteiras do conflito de gerações e beira o patológico. Isso porque, o filme expõe com clareza, Gonzaga Jr. nunca teria assimilado o fato do pai confiar a sua criação aos padrinhos, fato que marcaria o perfil psicológico do garoto e vai acompanhá-lo por toda vida, tornando complicada  --  e não raro agressiva  --  a relação dos dois.
 
Ambientado o mais das vezes em território nordestino, o filme tem uma direção de arte notável, com um rigor estético que sobressai pela beleza da fotografia em grande parte das cenas, a exemplo da antológica volta de Gonzagão à casa dos pais, já famoso como acordeonista e cantor popular no Rio de Janeiro. A festa que segue à sua chegada, pelo naturalismo das imagens e a perfeita escolha de figurantes, bem como o figurino criado, é um momento sublime do filme, rompendo por instantes o tom um tanto monocorde da narrativa e a vocação compreensivelmente piegas do enredo.
 
A narrativa, que tem início com uma cena de 1981, quando Helena, a esposa de Gonzagão, chega ao Rio de Janeiro para comunicar a Gonzaguinha que o pai dele está necessitando de ajuda, intercala momentos distintos da vida dos dois "Gonzaga", com flashbacks em que se veem a infância difícil do garoto, a adolescência em que contrai a tuberculose e os primeiros acordes ao violão, quando se revela como a luz de um relâmpago o imenso talento de que é possuidor. É aí, claro, onde se depara com uma certa licenciosidade do roteiro, posto que as músicas de Gonzaguinha que se ouvem são de uma outra fase de sua vida, já homem feito. Nada, no entanto, que comprometa a expressividade da narrativa e o bom resultado documental alcançado por Breno Silveira.
 
A acrescentar, a atuação do elenco. Adélio Lima e Chambinho do Acordeon, na pele de Gonzaga, estão muito bem; e Júlio Andrade, como Gonzaguinha adulto, transcende, num trabalho de ator rigoroso, já não bastasse a semelhança física com o autor de Começaria tudo outra vez. Luciano Quirino e Silvia Buarque (filha do compositor famoso), convencem como os padrinhos de Gonzaguinha. Vale conferir. 
 
 
 
  
 
 

3 comentários:

  1. Prezado Álder

    Ainda não assisti o filme, e graças ao seu comentário já estou com vontade de assisti-lo. Por uma grande coincidência, veja o link que recebi hoje, mostrando que a capacidade aerodinâmica da "Asa Branca" do nosso querido Gonzagão foi capaz de cruzar terras e mares.
    http://www.youtube.com/watch?v=Eq8a6RVhrZ8&feature=g-

    Um forte abraço
    José Luiz

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  2. Olá, Álder!

    Se vale conferir? (risos) Ô se vale! E depois desse texto instigante então. Rs.

    Um abraço Álder e sucesso sempre.

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  3. Primo, mais uma vez primoroso nas suas análises.Levei Newton e Marta para assistirem ao filme e emocionaram-se.O filme retrata a beleza da nossa cultura e mostra a grandeza de um dos maiores artistas brasileiros abraço afetuoso Marnewton

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