Li esta semana Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente, de Edward W. Said. Não se trata de uma obra recente (sua primeira edição é de 1978), tampouco de um livro da moda, desses que ocupam lugar de destaque nas gôndolas das livrarias. Pelo contrário, encontrei-o na garimpagem diária numa loja da cidade, em edição barata da Companhia das Letras. Sabia, contudo, tratar-se de um clássico dos estudos culturais, a que, ainda, não tivera acesso, que são muitos os livros que temos a pretensão de ler, cedo ou tarde. Foi bastante, todavia, folheá-lo, para ser tragado por suas páginas extraordinárias sobre a construção de um discurso norte-americano e dos países da Europa acerca das civilizações a leste de suas fronteiras.
Vazado numa linguagem elegante e leve, o livro de Said percorre uma longa trajetória, do século XVIII aos nossos dias, através da qual os países ricos impuseram ao mundo uma imagem negativa dos povos do Oriente, fixando, mais que um rótulo geográfico, uma interpretação perversa do que lhes parece apenas exótico e inferior. Nesse aspecto, pois, notadamente no que se refere aos Estados Unidos, o livro reatualiza-se, facilitando a perfeita compreensão dos interesses criminosos que estão por trás das relações internacionais da superpotência, a exemplo do que vem fazendo com o Brasil em práticas de espionagem só recentemente confirmadas.
Said observa, a dada altura, como se dá a construção desse discurso criminoso contra países atrasados e pobres, para o que tem sido decisiva a participação de uma imprense 'combativa' e rasteira em sua análise das questões políticas ligadas a temas como o terrorismo, o fundamentalismo islâmico e a falta de liberdade em diferentes nações. Chama a atenção, ainda, para a farta literatura de confiabilidade duvidosa a que tem acesso o grande público norte-americano, seduzido pela engenhosidade com que se tecem os textos e as mais variadas formas de representação do "outro" naquele país. Para ele, elimina-se o passado histórico, a memória desses povos, num tipo de confirmação da conhecida máxima inglesa "you're history", ou seja, "você já era".
Orientalismo: o Oriente como uma invenção do Ocidente, quero evidenciar, agrada ainda mais por sustentar-se numa crítica humanista orgânica, ou seja, por defender com profundidade e correção intelectual a ideia de que este é o caminho possível como estratégia de resistência contra os crimes historicamente cometidos pelos Estados Unidos contra os mais diferentes povos. O nosso, inclusive.
Por coincidência, recebendo-o com presente do amigo Cesar Lincoln, pude assistir agora ao belíssimo documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, sobre a participação 'intelectual' dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. É incontornável o trabalho enquanto documento e prova irrefutável do envolvimento dos militares brasileiros com os presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson nas ações que culminariam com a deposição de João Goulart. Coisas do Tio Sam.
Vazado numa linguagem elegante e leve, o livro de Said percorre uma longa trajetória, do século XVIII aos nossos dias, através da qual os países ricos impuseram ao mundo uma imagem negativa dos povos do Oriente, fixando, mais que um rótulo geográfico, uma interpretação perversa do que lhes parece apenas exótico e inferior. Nesse aspecto, pois, notadamente no que se refere aos Estados Unidos, o livro reatualiza-se, facilitando a perfeita compreensão dos interesses criminosos que estão por trás das relações internacionais da superpotência, a exemplo do que vem fazendo com o Brasil em práticas de espionagem só recentemente confirmadas.
Said observa, a dada altura, como se dá a construção desse discurso criminoso contra países atrasados e pobres, para o que tem sido decisiva a participação de uma imprense 'combativa' e rasteira em sua análise das questões políticas ligadas a temas como o terrorismo, o fundamentalismo islâmico e a falta de liberdade em diferentes nações. Chama a atenção, ainda, para a farta literatura de confiabilidade duvidosa a que tem acesso o grande público norte-americano, seduzido pela engenhosidade com que se tecem os textos e as mais variadas formas de representação do "outro" naquele país. Para ele, elimina-se o passado histórico, a memória desses povos, num tipo de confirmação da conhecida máxima inglesa "you're history", ou seja, "você já era".
Orientalismo: o Oriente como uma invenção do Ocidente, quero evidenciar, agrada ainda mais por sustentar-se numa crítica humanista orgânica, ou seja, por defender com profundidade e correção intelectual a ideia de que este é o caminho possível como estratégia de resistência contra os crimes historicamente cometidos pelos Estados Unidos contra os mais diferentes povos. O nosso, inclusive.
Por coincidência, recebendo-o com presente do amigo Cesar Lincoln, pude assistir agora ao belíssimo documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, sobre a participação 'intelectual' dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. É incontornável o trabalho enquanto documento e prova irrefutável do envolvimento dos militares brasileiros com os presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson nas ações que culminariam com a deposição de João Goulart. Coisas do Tio Sam.
Prezado Álder
ResponderExcluirO seu comentário sobre o livro despertou minha curiosidade, vou procura-lo para ler.
Apenas um comentário sobre a nunca bem delimitada participação dos Estados Unidos na contrarevolução brasileira de 64: acho interessante a recorrência desse assunto, enquanto nada se fala sobre a intervenção militar direta de Cuba em Angola.
Um forte abraço
José Luiz