Quando vejo a sanha do mercado financeiro se voltar contra o governo da presidente Dilma, ocorre-me lembrar de uma cena maravilhosa de Luzes da Cidade, o filme sublime de Charlie Chaplin. Está logo no início da película, na inauguração de um monumento em que a figura feminina representa a Paz e a Prosperidade. Concluídos os discursos, que Chaplin ridiculariza à perfeição, aos reproduzi-los como meros ruídos (bem no estilo dos blablabás da mais desavergonhada oposição de que se tem notícia na história recente do país), descerra-se a estátua e o que se vê é hilariante: um mendigo dorme a sono solto no colo da tal Prosperidade.
A cena, que entraria para a história do cinema, é uma das mais felizes críticas de Chaplin aos valores por que se norteia a lógica do capitalismo. O que vem na sequência da narrativa é ainda mais engraçado, não fosse trágica a realidade que metaforiza. Quando a banda executa o hino dos Estados Unidos, espírito máximo do capital, Carlitos vai se envolver com uma série de trapalhadas que visam, mesmo ao espectador mais desatento, expor ao ridículo as contradições de um modelo de desenvolvimento que submete uns à miséria em favor dos privilégios de outros. Ao tentar descer do monumento, sob a ameaça da força policial que se empenha em restabelecer a "ordem" em benefício do "progresso", a personagem tem o fundo das calças rasgado pela espada de uma outra figura da escultura. É esplêndido.
Entre as muitas camadas de sentido do filme, que se estendem do cômico ao mais belo romantismo, pois o filme tem como eixo central o amor de um vagabundo por uma moça cega, Luzes da Cidade vai tecendo, com a sensibilidade de Charlie Chaplin, as malhas de contrastes e equívocos, inversão de valores, hipocrisia e desfaçatez que escondem as contradições da sociedade, a luta de classes e a perversidade de um mundo em que o ter vale mais que o ser -- e um dos mais preciosos bens do homem, a liberdade de escolher, é confundida com a ignorância.
É impagável o sarcasmo com que Chaplin demarca, em Luzes da Cidade, os espaços e lugares sociais ocupados por Carlitos e o milionário. Embriagado, este abraça o mendigo como a um amigo querido, mas sóbrio o ignora e o põe da porta para fora, humilhado e esquecido.
Como afirma sobre este filme inesquecível um renomado crítico, nele os sentidos se confundem. A moça cega e o milionário embriagado vivem trocando as bolas. As luzes da cidade, felizmente, apagam todas as distinções e deixam o Vagabundo (o povo, acrescento eu!) ser o que a sua imaginação desejar. À luz da democracia, escolher será sempre um direito sagrado. Doa a quem doer.
A cena, que entraria para a história do cinema, é uma das mais felizes críticas de Chaplin aos valores por que se norteia a lógica do capitalismo. O que vem na sequência da narrativa é ainda mais engraçado, não fosse trágica a realidade que metaforiza. Quando a banda executa o hino dos Estados Unidos, espírito máximo do capital, Carlitos vai se envolver com uma série de trapalhadas que visam, mesmo ao espectador mais desatento, expor ao ridículo as contradições de um modelo de desenvolvimento que submete uns à miséria em favor dos privilégios de outros. Ao tentar descer do monumento, sob a ameaça da força policial que se empenha em restabelecer a "ordem" em benefício do "progresso", a personagem tem o fundo das calças rasgado pela espada de uma outra figura da escultura. É esplêndido.
Entre as muitas camadas de sentido do filme, que se estendem do cômico ao mais belo romantismo, pois o filme tem como eixo central o amor de um vagabundo por uma moça cega, Luzes da Cidade vai tecendo, com a sensibilidade de Charlie Chaplin, as malhas de contrastes e equívocos, inversão de valores, hipocrisia e desfaçatez que escondem as contradições da sociedade, a luta de classes e a perversidade de um mundo em que o ter vale mais que o ser -- e um dos mais preciosos bens do homem, a liberdade de escolher, é confundida com a ignorância.
É impagável o sarcasmo com que Chaplin demarca, em Luzes da Cidade, os espaços e lugares sociais ocupados por Carlitos e o milionário. Embriagado, este abraça o mendigo como a um amigo querido, mas sóbrio o ignora e o põe da porta para fora, humilhado e esquecido.
Como afirma sobre este filme inesquecível um renomado crítico, nele os sentidos se confundem. A moça cega e o milionário embriagado vivem trocando as bolas. As luzes da cidade, felizmente, apagam todas as distinções e deixam o Vagabundo (o povo, acrescento eu!) ser o que a sua imaginação desejar. À luz da democracia, escolher será sempre um direito sagrado. Doa a quem doer.
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