domingo, 17 de janeiro de 2016

Duas ou três palavras sobre arte

Em meio a pessoas queridas, entre um uísque e outro, levanta-se a questão:  O valor de uma obra de arte tem relação com sua dimensão (tamanho)? Não. Assim como a qualidade de um livro não tem relação com o número de páginas ou um filme com a duração do seu desfile na tela.
 
Avaliar uma obra de arte, sob o ponto de vista de sua importância e (consequente) valor de mercado, exige antes de tudo conhecimento especializado, cultura estética e domínio de conteúdos da História da Arte. Ocorrem-me, a propósito, as palavras do renomado crítico e historiador de artes, já falecido, Robert Hughes: "O valor de uma obra de arte não pode ser estabelecido por sua dimensão física, como fazem os vendedores de tecido munidos de sua fita métrica!"
 
Claro. Ainda que este aspecto possa vir a ser considerado na avaliação de um obra, no seu preço como mercadoria, trata-se de um fator quase sempre irrelevante, a menos que se trate de um avaliador despreparado e/ou de um artista "pequeno". Jamais se dará realce a este fator em se tratando de um grande artista, cuja cotação dependerá em princípio da lei mercadológica da oferta e da procura, ao que se somarão fatores rigorosamente estéticos: a técnica adotada, óleo, acrílica sobre tela, guache, Têmpera, Aquarela, Pastel, desenho, gravura etc.
 
Deve-se fazer um apanhado historiográfico da obra, a que momento da trajetória do autor pertence, o que permite classificar a importância no contexto de sua produção (fase imatura, fase madura etc.) e sua articulação com o tempo histórico. Nesse caso, fala-se de função sinfrônica, isto é, a capacidade que possui a obra de romper as fronteiras cronológicas e seus limites geográficos, que lhe asseguram o status de obra universal, patrimônio cultural de todos, mesmo quando se fizer referência a um obra de coleção particular.
 
O estado de conservação, obviamente, será levado em consideração; se se trata de uma obra restaurada, o quando existe nela de originalidade; a assinatura, o que, aos olhos de um marchand profissional afastará quase por completo os riscos de ser uma falsificação e outros detalhes definidores da autenticidade das informações publicadas sobre a tela, a peça escultórica, a gravura e por aí vai.
 
Contudo, mesmo nos limites de uma crônica de jornal, é incontornável reconhecer que todos esses fatores foram pensados na perspectiva do que se pode considerar arte nos parâmetros tradicionais, ditos clássicos, na contramão da complexidade do que se convencionou chamar de arte contemporânea, não raro esvaziada de sentido e conteúdo, de elaboração formal criteriosa e de quaisquer outros elementos conceituais passíveis de uma razoável classificação teórica.
 
É aí que entram outros instrumentos de análise que tanto interessaram aos integrantes da Escola de Frankfurt, Adorno sobremaneira, cuja reflexão em torno da Indústria Cultural aponta para uma inevitável diluição de critérios em obediência às regras de mercado, o que resulta em um jogo especulativo que explica a produção de baixíssima qualidade nos dias atuais.
 
Nesse sentido, pois, é que a arte perde o seu real valor e ao artista cabe emprestar à obra o tamanho de sua fama, de sua visibilidade e preço condizente com as regras impostas pelo mercado. Não sem razão, é que gostaria de terminar este artigo com a inquietante afirmação de Andy Warhol: "Ser bom nos negócios é o mais fascinante tipo de arte. Ganhar dinheiro é arte e um bom negócio é a melhor arte." 
 
 

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