quinta-feira, 14 de abril de 2016

O pior se aproxima

Em se confirmando as expectativas, ao que tudo indica prováveis, nesse domingo consolidar-se-á o golpe contra a presidente Dilma Rousseff. Vai por terra, para além daquele que é talvez o único nome verdadeiramente limpo dentre os políticos brasileiros hoje, um projeto de governo popular, em que pesem os desacertos e as contradições que pontuaram as ações da presidente eleita com mais de 54 milhões de votos. Vai por terra, pisoteada no que lhe é mais sagrado, outrossim, a democracia brasileira, na reedição do traço com que, teimosamente, a nossa elite insiste em escrever a história do país.
 
Numa nação orientada pela força dos grandes empresários e pela cumplicidade de uma imprensa historicamente golpista, a exemplo do que se verifica mais uma vez no "jornalismo" da rede Globo, das revistas Veja, Época, IstoÉ, dos jornais Folha de S. Paulo e o Estadão, para citar os carros-chefes dos golpismo desenfreado de todos os dias, ladeada por um Judiciário conivente com as práticas mais inconfessáveis do que existe de realmente podre na história recente do Congresso Nacional, o fato vergonhosamente recoloca em pauta o quão é difícil e tortuosa a construção de um país como o Brasil.
 
Ressurge, em sua face mais pálida, a prática do "bovarismo" a que se refere o historiador Sérgio Buarque de Holanda no seu sempre atual Raízes do Brasil, de 1936, nome com que define a eterna insatisfação dos brasileiros em face das nossas condições reais. O termo, sabe-se, tem origem na personagem de Gustave Flaubert, aquela em cuja cabeça se misturam ficção e realidade, utopias nascidas da insanidade psiquiátrica que a levaria à morte por suicídio.
 
Por oportuno, é no mesmo livro que Sérgio Buarque se refere ao mito da cordialidade, não à maneira indolente, generosa e pacífica com que lidamos uns com os outros, na equivocada leitura do senso comum, mas como o historiador define a vocação dos brasileiros para se dar ao imediatismo das promessas e expectativas ingênuas de um futuro melhor. Cordialidade, de cor, cordis, coração, termo com que sinaliza para as investidas impensadas, movidas pelo sentimentalismo e pelas crenças fáceis e utópicas, bem no feitio com que segmentos expressivos da população povoaram as ruas de nossas principais cidades entoando o "Fora Dilma!"
 
Por trás de tudo, claro, o ódio declarado de nossa elite, a mais perversa, a mais sórdida de todas as elites de que se tem conhecimento desde sempre, debaixo de cujos interesses se dá a passos largos o golpe de abril de 2016. Como se sabe, trazendo em pauta aberta o retrocesso, a desconstrução de algumas de nossas maiores conquistas, o restabelecimento de relações sociais marcadas pelo autoritarismo e pelo fortalecimento das mais fundas desigualdades.
 
O pior se aproxima, sob o disfarce da legalidade que não existe.
 
 
           

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