O fato é que a magia do cinema, alguém já disse, constitui um tipo de "nosce te ipsum" socrático (conhece-te a ti mesmo) que nos faz percebermo-nos no "outro" saído da imaginação de grandes artistas, a exemplo de Visconti, Vitorio De Sica, Pasolini, Fellini, Alberto Sordi, Clouzot, Godard, Truffaut, Hitchcock, Woody Allen, Chaplin, Bertolucci, Bergman, nomes que povoam a memória dos amantes dessa arte incomparável a que se refere Mino citando a chorosa Jennifer, para o intranquilo Oliver Barret, na porta de sua casa em Boston, depois de uma briga passional.
Quanto a nós, os simples mortais, achamos, com razão, que amor e perdão não são coisas excludentes. Nessa perspectiva, aliás, também o cinema nunca se omitiu: "É que o amor nunca é pecado", diz Patrícia Pilar para Bruno Campos, na pele da adúltera Teresa, no belo O Quatrilho, de Fábio Barreto, 1996, uma feliz adaptação do romance homônimo de José Clemente Pozenato.
Se idealizado ali, aqui o amor se revela transverso. A fala de Teresa dá início ao romance "proibido" entre a personagem de Pilar e Massimo, cujo desfecho remete ao título do filme. Para surpresa de todos, os casais se cruzam e resolvem suas vidas na contramão de qualquer lógica, e são felizes para sempre.
"To love is to burn, to be on fire, like Juliet or Guinevere or Eloise". Está em Razão e Sensibilidade, 1995, o filme de Ang Lee, em que a personagem de Kate Winslet faz referência a três mulheres que, na literatura, viveram intensamente suas paixões: Julieta, de Shakespeare; Guinevere, a rainha consorte do Rei Athur da Távola Redonda e Heloísa, na França do final da Idade Média.
Como diz ela, "Amar é arder, estar em fogo. Como Julieta, Guinevere, Heloísa". A magia do cinema.