quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Num reino muito distante

Pego em intimidades com o amigo e provável candidato do PSDB à presidência da República (pelo que se desculpou publicamente), o juiz Sérgio Moro não esperou muito para golpear mais uma vez o ex-presidente Lula. É a forma sempre esperada de quem, como ele, não suporta deparar com resultados de pesquisas que apontam, vezes seguidas, o líder do PT disparado à frente de todos os nomes até cogitados para a eleição de 2018, Aécio entre eles. Agora, mais uma vez sem provas, o empavonado juiz denuncia Lula por supostos benefícios na aquisição (não concretizada) de um terreno em que seria construída a sede do Instituto Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo, escancaradamente, é um só: Impedir que Lula possa disputar para Presidente.

Como massa de fazer pão, que quanto mais apanha mais cresce, no dizer irreverente do Macaco Simão, Lula subiu em relação à pesquisa anterior do Datafolha. Agora, em cenário de primeiro turno, aparece na dianteira com 26%, contra 17% para Marina e 8% para Geraldo Alckmin. Os números da pesquisa, que, como dizíamos, é motivo de indisfarçável angústia de Sérgio Moro, mais ainda mexe com a vaidade doentia do juiz em simulação que apresenta seu nome como suposto candidato. Vejamos: Lula 24% e Marina e Sérgio Moro empatados com 11%. A margem de erro, diz o Datafolha, é de dois pontos.

E Aécio?, haverá de perguntar o leitor. Pois bem, num cenário em que o senador mineiro aparece o resultado é esse: Lula 25%, Marina 17%, Aécio 11%. Nesse caso, Bolsonaro tem 9%, Ciro Gomes 5% e Temer 4%. Lula ganha, ainda, no cenário em que aparece Serra e noutro em que se colocam os três nomes do PSDB. Nas duas, Lula tem vantagem de 13 e 12 pontos, respectivamente. Em síntese: Só mesmo a impossibilidade de candidatar-se tira Lula do páreo nas eleições de 2018.

As maquinações de Temer, Aécio, Serra, Moro e companhia, fazem-me lembrar o início da Cena 3 do terceiro Ato do clássico de Shakespeare, em que Claudio e Rosencrantz admitem que Hamlet deva ser afastado a fim de que a vida do rei não seja ameaçada: "A majestade não sucumbe sozinha; mas arrasta/Como um golfo o que a cerca; é como a roda/Posta no cume da montanha altíssima/A cujos raios mil pequenas coisas/São presas e encaixadas; se ela cai,/Cada pequeno objeto, em consequência,/Segue a ruidosa ruína".

A propósito, a peça do bardo inglês tem como tema um reino de podridão, desfaçatez, mentira, traições, corrupção, ardis, desde que chega ao poder um usurpador que foi capaz de matar o irmão, covardemente, para se tornar um rei ilegítimo. O final da peça, todos sabem, é trágico  --  do mesmo modo que parece vir ocorrendo a um país léguas sem-fim do reino da Dinamarca. Já dizia Wilde, outro gênio da literatura inglesa, é a vida, muitas vezes, que imita a Arte.

 

 

 

  

 

 

 


 

Um comentário:

  1. Parabéns, amigo. Como sempre, comentários lúcidos, certeiros e elegantes

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