terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Sem utopias

Na contramão do que se professava como justificativa para o golpe, 2016 termina miseravelmente. Para não correr o risco de ser julgado tendencioso, reproduzo aqui algumas das principais manchetes da Folha de S. Paulo, uma das empresas de comunicação responsáveis pela sujeira em que se transformou a política no Brasil. Vejamos: "Rombo nas contas públicas é o maior em 20 anos"; "Utilização da capacidade da indústria cai à mínima histórica"; "Pela primeira vez em 12 anos, shoppings fecham mais lojas do que abrem"; "Varejo tem queda no Natal"; "Mercado reduz projeção do PIB"; "Desemprego deve subir ainda mais em 2017" etc.

Onde a tão alardeada recuperação da economia?

O que se vê, para quem insiste em querer negar os fatos, é que a deposição de Dilma nada mais era do que a decidida investida dos grandes empresários do país contra um governo popular, pondo por terra o projeto de inclusão social e fortalecimento da soberania do país em favor dos interesses perversos do neoliberalismo e da ingerência dos Estados Unidos na vida econômica e política do país.

Como faz lembrar um articulista da própria Folha de S. Paulo, em edição de 27/12, os entusiastas da "falta de confiança", referindo-se a um dos chavões mais simpáticos à turma do pato (empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), alardeavam o exemplo do governo ultraliberal de Maurício Macri, da Argentina, cuja última medida de repercussão foi a demissão do seu ministro da Fazenda. Provas e mais provas de que o modelo é, a um tempo, perverso e suicida. É ter olhos (ou vergonha?) para ver.

2016 termina, pois, como um ano em que o Brasil viu ruir, a golpes de corrupção, o Estado de Direito, os avanços em favor dos menos favorecidos e das chamadas minorias. Não à toa, portanto, é que o governo ilegítimo de Michel Temer extinguiu pastas estratégicas, a exemplo de secretarias como das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos; diminuiu o poder de ação e autogerenciamento de ministérios importantes, tais como o da Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Agrário, sem esquecer o que fez à Educação e à Saúde com a aprovação, comprada, da PEC da maldade, que congela por 20 anos os recursos de ambas.

O pior, sabe-se, está por vir: a reforma da Previdência assalta os trabalhadores no que existe de mais legítimo em suas conquistas. Aumenta para 49 anos o tempo de contribuição e idade mínima de 65 anos para homens e mulheres, bem como extingue a vinculação dos benefícios ao salário mínimo.

Numa prova incontornável de suas contradições e servilismo ao grande Capital, o governo Temer por pouco não repassou às empresas de telefonia R$ 100 bilhões do patrimônio público nacional, deixando às claras a face desfigurada de um governo que tira dos pobres para dar aos muito ricos.

Como tomei a Folha de S. Paulo para evidenciar a desfaçatez por trás do golpe indisfarçável, é do colunista Alvaro Costa e Silva, em sua coluna na edição de 27/12, que retiro a conhecida declaração de Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997) sobre a elite brasileira: "O empresariado brasileiro é, de modo geral, escrotérrimo (sic). Ele é incapaz de ceder um mínimo que seja nas questões que envolvem seus ganhos. É um conjunto de pessoas que se habituou a receber tudo dando pouco em troca. A relação dele tanto com os empregados quanto com o país é de mão única: só querem receber, e nada mais".

Decididamente, termina o ano da vergonha, da canalhice do Congresso Nacional, da perda das garantias constitucionais, dos maus exemplos do Judiciário, da inescrupulosa articulação contra a democracia, do uso desavergonhado de dois pesos e duas medidas, das falsas promessas, da exploração da ingenuidade dos menos favorecidos em favor de um governo espúrio e indigno até a medula.

Que venha 2017, posto que nada é tão ruim que não possa piorar. 

 

 

 


 

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