quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Ex-amor

Dia após dia, vai se confirmando nos bastidores da política brasileira o que todos já sabiam: foi golpe, e tinha por maior objetivo impedir que a operação Lava Jato investigasse quadros importantes da dupla PMDB/PSDB. Para não falar, óbvio, do jogo de interesses espúrios na linha daquele que levou Geddel Vieira Lima à lona. Lixo sobre lixo, numa sequência que a um tempo enoja e revolta, o (des)governo de Michel Temer parece apontar para seu desfecho antes mesmo de começar. Mesmo quando, visando a safar-se da repercussão negativa e coerente com sua vocação de traidor, o presidente anuncia que vetará alterações no projeto anticorrupção aprovado, noite alta, pelos senadores, e que, sabe-se, faziam parte das manobras arquitetadas na intimidade de almoços e jantares promovidos pelo próprio Michel Temer. Uma vergonha.

Sobre isso, por oportuno, merece destaque a entrevista concedida à Folha de S. Paulo, edição desta quinta 01/12/2016, pelo ex-amor da corja golpista, Joaquim Barbosa. Para os que não leram, aqui vão alguns trechos notáveis do que falou Barbosa.

Impeachment: "... uma encenação que fez o país retroceder a um passado no qual éramos considerados uma República de Bananas. [...] Todos os passos já estavam planejados desde 2015. Aqueles ritos ali [no Congresso] foram cumpridos apenas formalmente".

Interesses por trás da manobra: "Era um grupo de líderes em manobras parlamentares que têm um modo de agir sorrateiro. Agem às sombras. E num determinado momento decidiram derrubar [Dilma Rousseff]".

Fim da Lava Jato: "Há [riscos] sim, porque a sociedade brasileira ainda não acordou para a fragilidade institucional que se criou quando se mexeu num pilar fundamental do nosso sistema de governo, que é a Presidência. Uma das consequências mais graves de todo esse processo foi o seu enfraquecimento".

Apoio popular ao golpe: "Aquelas lideranças da sociedade que apoiaram com vigor, muitas vezes com ódio, um ato grave como o impeachment não tinham clareza da desestabilização estrutural que [isso] provoca".

Envolvimento do Capital: "A partir de determinado momento, sob o pretexto de se trazer estabilidade, a elite econômica passou a apoiar, aderiu. Mas a motivação inicial é muito clara".

Consequências do golpe: "No momento em que você mina esse pilar central, todo o resto passa a sofrer desequilíbrio estrutural. Todas as teorias dos últimos anos 30 anos, de hipertrofia da Presidência, de seu poder quase imperial, foram por água abaixo. A facilidade com que se destituiu um presidente desmentiu todas essas teses. No momento em que o Congresso entra em conluio com o vice para derrubar um presidente da República, com toda a sua estrutura de poder que se une, não para exercer controles constitucionais, mas sim para reunir em suas mãos o poder, nasce o que eu chamo de desequilíbrio estrutural".

Ilegitimidade de Temer: "Essa desestabilização empoderou essa gente numa Presidência sem legitimidade unida a um Congresso com motivações espúrias. E esse grupo se sente legitimado a praticar as maiores barbáries institucionais contra o país".

Risco de Temer cair: "Corre risco. É tão artificial essa situação criada pelo impeachment que eu acho, sinceramente, que esse governo não resistiria a uma série de manifestações".

Retrocesso político: "O Brasil deu um passo para trás gigantesco em 2016. As instituições democráticas vinham se fortalecendo de maneira consistente nos últimos 30 anos. [...] E houve uma interrupção brutal desse processo de 'rebananização' [voltar a ser uma país de bananas]. É como se tivéssemos voltando ao passado no qual éramos considerados uma República de Bananas. Isso é muito claro. Basta ver o olhar que o mundo lança sobre o Brasil hoje.

Com a palavra, os coxinhas, seus ex-amantes.

 

 

 

 

 


 

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