Apesar de você, amanhã há de ser um novo dia!
As cenas de tortura em presídios de Goiás, divulgadas através da imprensa essa semana, reeditam uma prática comum durante o Regime Militar implantado no Brasil com o golpe de 1964.
Ademais, a concluir pelo que afirma o próprio deputado e potencial candidato a presidente da República, constitui um dos pontos subliminares do programa de governo que Jair Bolsonaro professa abertamente desde há muito tempo.
É muito simples: o candidato que a direita e parte significativa da elite brasileira abraça como alternativa para os problemas do país, é favorável a que se arranquem unhas, apertem bicos de seios com alicate, dependurem-se pessoas em paus de arara e que se apliquem choques elétricos nas partes íntimas de presidiários, a exemplo do que se descobriu ser prática de rotina no estado de Goiás, governado pelo tucano Marconi Perillo.
É importante frisar que não são fatos isolados, pelos quais se possa responsabilizar um ou outro agente penitenciário. Não, trata-se de um procedimento corriqueiro. É acessar diferentes sites na Internet e constatar: os vídeos, gravados em pelo menos três unidades prisionais do estado (São Luís de Montes Belos, Formosa e Jataí), mostram cenas chocantes, aterradoras, a um tempo perversas e covardes de inúmeros agentes usando a força bruta, "taser" e até armas de fogo para supliciar presos.
Num dos vídeos, o enquadramento dá a ver um agente com uma lista de condenados à prática hedionda, só conhecida no Brasil nos anos de chumbo, desde a Ditadura Militar. A câmera desliza numa panorâmica sinistra e o espectador depara-se no quadro com um detento suplicando que o matem: --- "O que eu fiz com vocês?"
O estômago embrulha ao pensar que porção considerável dos brasileiros (entre os quais sobressaem jovens ente 20 e 35 anos, negando o que se espera daqueles de quem se diz o "futuro da Nação"), manifeste o mórbido desejo de ver o Brasil nas mãos dessa gente, alheia ou indiferente ao que a história já registra de abominável adotado entre nós durante o governo militar.
Ah, os versos da epígrafe são de Chico Buarque e fazem parte de Apesar de Você, composta durante os anos de chumbo. Ameaçado de tortura, o artista foi indagado por agentes prisionais sobre o "você" da canção, ao que respondeu sarcasticamente: "É uma mulher muito autoritária!"
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