quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Porque era Natal

Durante o café da manhã, entre amigos, um deles me lança o desafio: ---  "Que tal uma crônica sobre os melhores filmes de Natal?", pergunta-me, entre curioso e cúmplice. 

E fomos, juntos, vasculhando a memória na tentativa de lembrar os filmes que, direta ou indiretamente, tivessem como fio condutor a festa do Deus Menino. 

Não sem esforço, claro, ocorreram-nos, assim, como que por milagre, alguns títulos memoráveis: Natal em Hollywood, A Felicidade Não se Compra, Duas Semanas de Prazer, Inferno 17, Uma História de Natal, Papai Por Acaso, Um Conto de Natal etc. 

Mas é Noites Calmas, que ninguém foi capaz de lembrar, naquele instante, ao redor da mesa em que nos confraternizávamos, o filme com que gostaria de ter colocado a "cereja do bolo" do prazeroso embate.

E é sobre ele que decidi aceitar, agora, a provocação de escrever a coluna do A Praça nesta antevéspera do Natal. 

É um enredo simples, roteirizado a partir do livro homônimo de William Warthon, com direção notável de Keith Gordon. Um bom filme, talvez inferior a alguns da relação, mas inesquecível por uma das mais belas sequências do cinema em muitos anos. E é, supostamente essa, a razão por que fiz questão de revê-lo ao chegar em casa  ---  confesso, contendo a custo a emoção. 

Segunda Guerra Mundial. Um pequeno grupo de soldados americanos é designado para uma missão perigosa no front alemão, em pleno inverno de 1944. 

Os inimigos encontram-se na noite de 24 de dezembro, e o que se passa, por inverossímil que possa parecer, é de uma beleza enorme: nenhum tiro, nenhum ato de violência. Em frente a um casebre que servira de esconderijo aos alemães, os combatentes lembram que é noite de Natal, as armas são postas e, juntos, entoam canções natalinas.

Dia claro, os alemães decidem se entregar. Mas como justificar ao Major Griffin (John McGinley) que ordenara aos soldados americanos destruir os alemães, que isso tenha se dado sem o disparo de um único tiro e uma só gota de sangue derramada? É quando os jovens soldados, americanos e alemães, tocados pelo espírito de paz que reinara até a antemanhã, resolvem, irmanados, simular um combate, atirando para o alto, a fim de que seus superiores não descubram a farsa.

No simbolismo dessa cena, a um tempo tão forte e tão terna, a arte lembra a todos nós que nem tudo está perdido, mesmo na realidade brutal de uma guerra, e que ainda é possível nutrir a esperança de um mundo melhor, mais humano, mais igualitário e mais tolerante.

Mais que enfeites e mesas fartas, como quis Francisco, o nascimento de um Deus pede dos homens, antes de qualquer outra coisa, a festa simples dos corações que amam.

Noites Claras, pois, com a simplicidade de sua concepção cinematográfica, ambientado num cenário de roubar o fôlego, na fronteira entre França e Alemanha, em meio ao horror de uma guerra, mostra que o amor foi capaz de vencer o ódio. Porque era Natal! 

 

 

 

 

 

 

   

 


 

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