Que pena um intelectual da estatura de Fernando Henrique Cardoso deixar que lhe chegue com a velhice a desfaçatez. Deplorável o que vem declarando à grande imprensa o autor de Dependência e Desenvolvimento na América Latina, livro de 1967 em que professa a necessidade de uma militância anti-imperialista no continente. De lá para cá, o que se viu, despudoradamente, foi o intelectual de esquerda dar lugar ao político da pior estirpe, este que considera lícito o golpe de 2016 e dá a ver, com indisfarçável cinismo, a sua satisfação com a retirada de Lula da eleição para presidente em 2018.
Diante da morte anunciada do candidato do PSDB nas urnas, FHC, agora, como um lagarto peçonhento, cospe para um lado e outro na tentativa de abocanhar o seu quinhão no processo de sucessão presidencial: --- "O estilo dele [Luciano Huck] é peessedebista. É um bom cara", afirmou, para, em seguida, telefonar a Alckmin minimizando o seu flerte com o candidato da Globo. É próprio dele afagar com as duas mãos, bater e assoprar, construir discursos ambivalentes, que carregam em si dois valores, numa tentativa desavergonhada de sair bem na foto. Até quando a tendência a atrair sobre si as atenções definirá as posições de FHC, não se sabe, mas que o ex-guevarista estará nas mídias por um bom tempo ainda, isto é certo.
Como lembra o articulista de direita Reinaldo Azevedo, em sua coluna desta sexta-feira na Folha de S. Paulo, é do feitio de FHC negociar a mãe com o diabo a fim de alcançar seus objetivos pessoais ou grupistas. Como candidato do Plano Real à Presidência, quem há de não lembrar, "buscou o apoio da 'velha política', encarnada pelo PFL, para fazer as reformas modernizadoras que a esquerda e a centro-esquerda se recusavam a apoiar". Agora é dele "a mão que balança o berço em que Huck balbucia infantilismos sobre política".
Se, há coisa de oito meses, FHC professava a necessidade de antecipação das eleições para presidente, lembra Azevedo, não faz muito considerava uma "loucura, loucura, loucura" (sic) o "Fora Temer", reeditando a dubiedade de suas propostas e, acima de tudo, de suas intenções quase sempre inconfessáveis. Age, mais uma vez, como o Iago da política brasileira, aquele personagem de Shakespeare que se imortalizou como o maior vilão da literatura mundial, cujo nome tem origem no demônio mitológico que pode significar Maldade ou Vingança.
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