Outro dia, num restaurante da moda, uma moça sentou-se a meu lado tremendo de curiosidade: - "Vi sua entrevista na tevê sobre relacionamentos. A-do-rei! Posso ficar um pouco?" Como estivesse sozinho (e por uma questão de elegância de que não se deve abrir mão), puxei-lhe a cadeira. Não imaginei que começasse ali uma das conversas mais interessantes sobre este assunto a que tenho me dedicado desde a publicação de Do Amor e Outras Crônicas.
A moça, que deve estar na faixa dos trinta e cinco, pouco mais, pouco menos, acabara um relacionamento de onze anos e - disse-me -, saía de casa pela primeira vez nuna noite de sexta-feira. Como de praxe, nesses casos, tinha dificuldade para descrever em poucas palavras a trajetória percorrida até a separação. Nada de muito diferente do que todos sabemos. Vivera tempos de muita felicidade, mas, por volta dos sete, oito anos, começaram as intrigas recorrentes na vida de todo casal. O ex, que, até onde sei, é um típico machão, parece não estar sabendo lidar com a situação e a assedia na esperança de uma reconciliação. A menina vive um drama danado.
Pelo que vejo, e sobre o que tenho tantas vezes escrito, o homem moderno anda mesmo perdido. Foi pego de surpresa (de surpresa?) por uma autêntica revolução do comportamento feminino e está sem referência, querendo e não querendo conviver com a dura realidade: a mulher avançou com a velocidade de uma Ferrari e ele, tal qual um cego em tiroteio, não sabe que rumo tomar. O resultado é que o homem atual não sabe manter aquecida a relação, não tem o approch que ela considera hoje um item indispensável, usa as mesmas táticas de cortejar que já traz em si o cheiro do ultrapassado, numa palavra, não sabe amar. E a coisa deu no que deu.
A propósito, acaba de chegar às livrarias Chabadabadá - As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha, do jornalista Xico Sá. Cabotinismo à parte, o livro pretende ser um manual de ajuda para conquistar mulheres. Não o li, mas conheço dele alguns fragmentos publicados por uma dessas revistas masculinas. "Rapazes, o amor acaba, o amor acaba em qualquer esquina, de qualquer estação, depois do teatro, a qualquer momento, como dizia Paulo Mendes Campos, mas ter medo de enfrentá-lo é ir desta para a outra mascando o jiló do desparazer e da falta de apetite na vida. Falta de vergonha na cara e de se permitir ser chamado de homem para valer e de verdade."
Mas, voltemos à mesa do restaurante. Ouvi mais do que falei, que nas circunstâncias da minha interlocutora, o que se deseja mais é poder falar. Não quero tirar conclusões precipitadas, mas lembrei de John Milton, o mais poderoso poeta de língua inglesa nos seus tratados sobre o divórcio e a separação. Para o autor de Paraiso Perdido, e para mim também, o verdadeiro segredo de um casamento é o companheirismo, e a incompatibilidade de temperamentos é que torna o divórcio melhor que a traição.
Já no estacionamento, pude ver que a nossa despedida, a depender da moça, poderia ter bem mais que adeuses. O amor de hoje.
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