quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Amor não morre nunca

O que acontece quando cinco amigos estão à mesa de um bar conversando? Tolice, tolice pura, dirão as mulheres. Se, via de regra, isso é mesmo uma realidade, a regra tem exceções, felizmente. Ou não, que é sempre bom, vez e outra, desfiar bobagens diante da cerveja. Talvez não seja o caso do que se vê no enredo do último livro da escritora portuguesa Inês Pedrosa, Os íntimos, que li de uma sentada nessa segunda-feira. E adorei.
 
Afonso, Augusto, Guilherme, Pedro e Felipe, sentam-se à mesa de um bar de Lisboa, em dia de chuva, e iniciam a curiosa conversa, tendo como testemunha feminina Célia, filha do taberneiro e única mulher ali presente. Mas elas têm voz, ainda que indiretamente, nessa prosa de qualidades estilísticas já reconhecidas de obras anteriores. A propósito, mais de uma vez escrevi neste espaço sobre livros de Pedrosa, Fazes-me falta e Em tuas mãos, para ficar em dois exemplos do que há de melhor na ficção pedrosiana. Voltemos ao livro.
 
Num recurso já conhecido, o entrecruzar de vozes e estilos, mas tratado com a concepção estética inconfundível, que a originalidade do 'olhar' é uma marca de Inês Pedrosa, mesmo quando discorre sobre o vazio da existência humana em crise, que tão frequentemente constitui a matéria de que se vale para traçar suas narrativas repletas de emoção e poesia, a autora vai tecendo a realidade multifacetada de suas personagens. As angústias, as incertezas, a dor das perdas, os conflitos de toda ordem. Um belo livro, já disse.
 
Aqui e ali, uma passagem descontraída própria da circunstância de estarem cinco homens a falar de suas vidas, como no julgamento que faz Afonso sobre a passionalidade feminina hoje: - "[...] com a libertação das mulheres finou-se aquela ideia simpática de que o tamanho não é importante. Acabaram-se os bons sentimentos das mulheres: a timidez, o pudor, a culpa, a entrega desinteressada, enfim, a compaixão." Ou dramáticas e comoventes, como na carta de uma amiga para o mesmo Afonso, que acabara de perder uma filha: - "O amor, vi-o cintilante, nos teus dedos, enquanto acariciavas a tua filha, no caixão, como se de novo  a acariciasses no berço, enquanto dormia."
 
Em tempo, nesta mesma passagem do romance deparamos com uma belíssima reflexão sobre a perenidade do amor, este sentimento que move a arte de Inês Pedrosa: - "[...] o Amor não se perde, nem envelhece, nem morre. Basta olhar para as estrelas. Como eu olho para ti." Perfeito, Inês: o Amor não morre nunca!
 
 

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