Dia desses, por ocasião da trágica morte do cineasta Eduardo Coutinho, relembrei aqui minhas andanças, sertão adentro, com o clássico Cabra marcado para morrer a fim de exibi-lo para comunidades agrícolas em fase de organização política. Fora uma experiência a um tempo desafiadora e bem sucedida, cujos resultados não podem ser medidos de forma precisa, claro, mas apontam para conquistas de cunho pedagógico que, ainda hoje, considero importantes. Terão sido.
Esta semana, exultante, acompanhei o lançamento do filme, em DVD, pelo Instituto Moreira Salles. Versão inteiramente restaurada, com qualidade de produção excelente, e extras que enriquecem a versão original, de inícios dos anos oitenta, a exemplo dos documentários A família de Elizabeth Teixeira (65 min.) e Sobreviventes de Galileia (27 min.), além de um livreto com textos de diferentes estudiosos da obra de Coutinho, com destaque para Walter Lima Jr. e Sylvie Pierre.
Para quem não viu o filme à época de sua estreia no Brasil, seguida de uma sequência significativa de prêmios conferidos ao autor no Brasil, Europa e Estados Unidos, é privilégio poder fazê-lo hoje, mesmo quando algumas das questões centrais do Cabra... exigem do espectador algum senso de reatualização. De resto, o filme guarda aspectos "modernos" em sua tessitura narrativa, nada pouco em se tratando de um trabalho fracionado desde a sua origem. A primeira parte, sabe-se, dista algo em torno de 17 anos da segunda, concluída em 1984.
Tivesse Eduardo Coutinho realizado apenas este filme, a forma como o fez, tirando leite de pedra para tornar possível a sua conclusão, somada à originalidade dos meios que utiliza para narrar o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, em 1962, na Paraíba, e os desdobramentos do fato, perseguição a familiares e amigos da vítima, novas execuções etc., eleva o filme a patamares poucas vezes alcançados em documentário no Brasil.
O cineasta, assassinado há coisa de um mês, foi soberbo como criador: o filme mistura ficção e realidade, lança mão de recursos próprios da reportagem televisiva, do cinema direto e da montagem, sem dispensar a participação de agricultores da região como atores, bem no estilo neorrealista italiano, o que lhe confere o status de obra de arte, na linha do que melhor se fez na cinematografia de todos os tempos.
Não bastassem tantas qualidades estéticas, Cabra marcado para morrer enseja uma experiência cinematográfica, como observa Walter Lima Jr., capaz de provocar sérias reflexões "sobre a desagregação de uma família do campo sob pressão policial intensa" e "sobre a descoberta de que a fé de cada um deles não desaparece, assim como o quadro de injustiças sociais". Atual, vigoroso, poético, eterno. Um filme imperdível.
Esta semana, exultante, acompanhei o lançamento do filme, em DVD, pelo Instituto Moreira Salles. Versão inteiramente restaurada, com qualidade de produção excelente, e extras que enriquecem a versão original, de inícios dos anos oitenta, a exemplo dos documentários A família de Elizabeth Teixeira (65 min.) e Sobreviventes de Galileia (27 min.), além de um livreto com textos de diferentes estudiosos da obra de Coutinho, com destaque para Walter Lima Jr. e Sylvie Pierre.
Para quem não viu o filme à época de sua estreia no Brasil, seguida de uma sequência significativa de prêmios conferidos ao autor no Brasil, Europa e Estados Unidos, é privilégio poder fazê-lo hoje, mesmo quando algumas das questões centrais do Cabra... exigem do espectador algum senso de reatualização. De resto, o filme guarda aspectos "modernos" em sua tessitura narrativa, nada pouco em se tratando de um trabalho fracionado desde a sua origem. A primeira parte, sabe-se, dista algo em torno de 17 anos da segunda, concluída em 1984.
Tivesse Eduardo Coutinho realizado apenas este filme, a forma como o fez, tirando leite de pedra para tornar possível a sua conclusão, somada à originalidade dos meios que utiliza para narrar o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, em 1962, na Paraíba, e os desdobramentos do fato, perseguição a familiares e amigos da vítima, novas execuções etc., eleva o filme a patamares poucas vezes alcançados em documentário no Brasil.
O cineasta, assassinado há coisa de um mês, foi soberbo como criador: o filme mistura ficção e realidade, lança mão de recursos próprios da reportagem televisiva, do cinema direto e da montagem, sem dispensar a participação de agricultores da região como atores, bem no estilo neorrealista italiano, o que lhe confere o status de obra de arte, na linha do que melhor se fez na cinematografia de todos os tempos.
Não bastassem tantas qualidades estéticas, Cabra marcado para morrer enseja uma experiência cinematográfica, como observa Walter Lima Jr., capaz de provocar sérias reflexões "sobre a desagregação de uma família do campo sob pressão policial intensa" e "sobre a descoberta de que a fé de cada um deles não desaparece, assim como o quadro de injustiças sociais". Atual, vigoroso, poético, eterno. Um filme imperdível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário