sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A pouco, muito pouco

Meus Deus, só me lembro de vós para pedir, mas de qualquer modo é uma lembrança.
(Carlos Drummond de Andrade)
 
Os brasileiros podem decidir amanhã o destino do país para os próximos quatro anos. Está em jogo a possibilidade de garantia das conquistas sociais de um governo reconhecidamente voltado para os menos favorecidos. Ou, na hipótese de um segundo turno, o risco de um retrocesso, no caso de Aécio ser o segundo mais bem votado, ou, se Marina, dar um salto no escuro, doando-se às incertezas de um governo sem qualquer identidade programática. Para não falar do elitismo gerencial que é mesmo a única clara vocação de um e outro, candidatos comprometidos com os interesses do capital.
 
As pesquisas de opinião, todavia, indicam a probabilidade de uma vitória de Dilma Rousseff já nesse domingo, uma vez que a candidata do PT aparece nos levantamentos dos dois principais institutos, Datafolha e Ibope, com algo em torno de 47% dos votos válidos (descontados brancos e nulos), ou seja, a soma de todos os demais candidatos mais 1. Seria a primeira vitória do PT no primeiro turno, o que ainda mais constituiria prova irrecusável de que os brasileiros mostram-se satisfeitos com o país que temos hoje.
 
Afasto desse juízo, é óbvio, aquela fatia da população insatisfeita com o fato de que os pobres tenham passado a frequentar espaços antes reservados aos endinheirados; porque as empregadas domésticas reclamam por salários mais dignos, pelo direito à folga semanal e pelo gozo remunerado de suas férias anuais; por que os "desiguais" transitam por shoppings e aeroportos, com roupas da moda e tênis de marca; por que ocupam as ruas das cidades com seus carros populares, agora um bem acessível a pessoas de poder aquisitivo menor etc., etc.
 
Refiro-me àqueles que exultam com a realidade de um Brasil mais justo e mais livre; aos que conseguem sintonia entre o discurso e a prática; aos que rezam por um Deus mais justo para todos, e que não estão de olhos fechados para as tantas e tantas conquistas de um povo historicamente espezinhado, sem moradia, sem assistência médica, sem escola, sem direito à mesa farta e a uma vida digna etc., etc.
 
Não me refiro, claro, àqueles que só vislumbram uma saída para o Brasil de agora, o Brasil dos humilhados e ofendidos de outros tempos: derrotar o PT e voltar ao que fomos antes. Esses, sabemos, sempre tiveram  --  e terão sempre!  -- bem nítidas suas vontades, a garantia de seus privilégios, suas regalias. Esses, não suportam, enrubescem mesmo de raiva, alimentam o mais descomedido ódio contra a realidade que seus olhos veem. E que não aceitam, mas que poderá ser confirmada amanhã.
 
 
 
 
 
 

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