Quando a imprensa brasileira atinge níveis de reacionarismo que beiram a indignidade, na linha do que fazem a rede Globo de TV, o jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja, deve-se festejar o lançamento do livro A Tolice da Inteligência Brasileira, como o país se deixa manipular pela elite, de Jessé Souza, atual presidente do IPEA, publicado pela editora LeYa.
Numa linguagem elegante e bastante clara, por cuja força o texto de Souza conquista o leitor desde as primeiras páginas, A Tolice da Inteligência Brasileira sobressai ao lixo editorial disponível no mercado pela densidade de uma análise que se fundamenta no que existe de mais significativo em termos de pesquisa hoje, contemplando abordagem que se estende de levantamentos econômicos consistentes a uma refinada capacidade de entender o que está por trás de práticas sociais dominantes -- que explicam a reprodução de privilégios injustos no Brasil.
Numa leitura clara e convincente, mesmo para os leitores menos familiarizados com o norte teórico em que se sustenta, Jessé Souza mostra como se dá o domínio de 1% dos mais ricos sobre os 99% restantes da população. O que é pior, o livro explica como um "exército de intelectuais", submissos à elite endinheirada, atua no inconfessável processo de legitimação das desigualdades. A essa altura o autor chama a nossa atenção para o que, valendo-se de Max Weber, denomina de "violência simbólica", isto é, a capacidade de convencimento com que "especialistas" (tão presentes nas matérias de jornal e TV) levam os excluídos desses privilégios a aceitar inocentemente tal realidade. Qualquer semelhança com o que fazem Mirian Leitão e Reinaldo Azevedo, pois, não será mera coincidência. Sem esquecer FHC e Demétrio Magnoli, claro.
Esse exército de intelectuais, diz Souza, tem seu equivalente nas religiões do passado e na forma como as crenças operavam nas sociedades tradicionais. Especificamente sobre a imprensa, o livro realça a verdade insofismável: Não basta aos endinheirados controlar todos os jornais e redes de TV para legitimar seus próprios interesses. É necessário "justificar", de modo a apresentá-los como "razoáveis".
A violência simbólica é tamanha, que os pobres, bem ao jeito de expressivos contingentes de explorados em face da presidente Dilma Rousseff hoje, abraçam as causas da elite (impeachment), que só beneficiam esta contra aqueles, num tipo de legalização do que é ilegal ou desprovido de certas formalidades para se tornar legal. "Isso, diz Jessé Souza, significa que os privilégios injustos de hoje não podem 'aparecer' como privilégio, mas sim como, por exemplo, 'mérito pessoal' de indivíduos mais capazes, sendo, portanto, supostamente justificável e merecido."
Sabe-se, infelizmente, que nem sempre é somente simbólica a violência contra os pobres. Vejamos um caso real: A diarista Márcia Maria, que presta serviços na casa deste colunista às segundas-feiras, foi convocada pela patroa do restante da semana, a participar de reunião com outros servidores da referida senhora, lavadeira, motorista e babá do filho recém-nascido. Foram essas as palavras, segundo Márcia: "Se vocês não forem à manifestação amanhã (era sábado, 12, véspera da mobilização em favor do impeachment), estão desempregados na segunda-feira. Vocês têm de ficar juntos, para que eu os veja, na calçada do Shopping Avenida às duas horas." Ato-contínuo, Márcia Maria lançou mão do celular e pediu que o marido a apanhasse imediatamente. Estava desempregada.
Numa linguagem elegante e bastante clara, por cuja força o texto de Souza conquista o leitor desde as primeiras páginas, A Tolice da Inteligência Brasileira sobressai ao lixo editorial disponível no mercado pela densidade de uma análise que se fundamenta no que existe de mais significativo em termos de pesquisa hoje, contemplando abordagem que se estende de levantamentos econômicos consistentes a uma refinada capacidade de entender o que está por trás de práticas sociais dominantes -- que explicam a reprodução de privilégios injustos no Brasil.
Numa leitura clara e convincente, mesmo para os leitores menos familiarizados com o norte teórico em que se sustenta, Jessé Souza mostra como se dá o domínio de 1% dos mais ricos sobre os 99% restantes da população. O que é pior, o livro explica como um "exército de intelectuais", submissos à elite endinheirada, atua no inconfessável processo de legitimação das desigualdades. A essa altura o autor chama a nossa atenção para o que, valendo-se de Max Weber, denomina de "violência simbólica", isto é, a capacidade de convencimento com que "especialistas" (tão presentes nas matérias de jornal e TV) levam os excluídos desses privilégios a aceitar inocentemente tal realidade. Qualquer semelhança com o que fazem Mirian Leitão e Reinaldo Azevedo, pois, não será mera coincidência. Sem esquecer FHC e Demétrio Magnoli, claro.
Esse exército de intelectuais, diz Souza, tem seu equivalente nas religiões do passado e na forma como as crenças operavam nas sociedades tradicionais. Especificamente sobre a imprensa, o livro realça a verdade insofismável: Não basta aos endinheirados controlar todos os jornais e redes de TV para legitimar seus próprios interesses. É necessário "justificar", de modo a apresentá-los como "razoáveis".
A violência simbólica é tamanha, que os pobres, bem ao jeito de expressivos contingentes de explorados em face da presidente Dilma Rousseff hoje, abraçam as causas da elite (impeachment), que só beneficiam esta contra aqueles, num tipo de legalização do que é ilegal ou desprovido de certas formalidades para se tornar legal. "Isso, diz Jessé Souza, significa que os privilégios injustos de hoje não podem 'aparecer' como privilégio, mas sim como, por exemplo, 'mérito pessoal' de indivíduos mais capazes, sendo, portanto, supostamente justificável e merecido."
Sabe-se, infelizmente, que nem sempre é somente simbólica a violência contra os pobres. Vejamos um caso real: A diarista Márcia Maria, que presta serviços na casa deste colunista às segundas-feiras, foi convocada pela patroa do restante da semana, a participar de reunião com outros servidores da referida senhora, lavadeira, motorista e babá do filho recém-nascido. Foram essas as palavras, segundo Márcia: "Se vocês não forem à manifestação amanhã (era sábado, 12, véspera da mobilização em favor do impeachment), estão desempregados na segunda-feira. Vocês têm de ficar juntos, para que eu os veja, na calçada do Shopping Avenida às duas horas." Ato-contínuo, Márcia Maria lançou mão do celular e pediu que o marido a apanhasse imediatamente. Estava desempregada.
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