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Assistindo ao belíssimo 100 Anos de Samba, no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro, ocorre-me lembrar de que o espetáculo acontece no mesmo palco em que se deu um dos maiores acontecimentos políticos deste País. Refiro-me à instalação, no começo de 1935, da ANL, uma das organizações mais consistentes em favor das liberdades democráticas e individuais, nacionalização dos serviços públicos, reforma agrária, aumento dos salários e melhoria das condições de trabalho, do direito à crença religiosa e de combate ao racismo no Brasil.Quase ouço as vozes que nunca ouvi, mas que conheço dos poucos livros de História que registraram os fatos na ótica dos menos favorecidos, que tiveram a dignidade de narrar os acontecimentos a que me refiro sem o servilismo e a canalhice da grande imprensa de hoje.
No Teatro João Caetano, no coração do Rio, foi assinada a primeira Constituição brasileira. O instrumento central da Lei de um País, a que vulgarmente se chama Carta Magna da Nação, pisoteada pelo reacionarismo ressurgente de uma elite que não tolera o Diferente, que se abraça apaixonadamente ao suspeitíssimo Eduardo Cunha e o lambe, animada pela possibilidade de um novo golpe.
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Por coincidência, leio no momento a biografia de Luís Carlos Prestes, recém-lançada pela Boitempo e assinada por Anita Leocádia Prestes. No Teatro João Caetano, em 1935, no evento carregado de simbolismo a que me refiro acima, o chamado Cavaleiro da Esperança assumiria a presidência da ANL. Era à época o político brasileiro de maior prestígio. Dono de um carisma inexplicável, Prestes era dotado de um charme e de um poder de convencimento que o fazia brilhar aonde quer que fosse. Mas era duro, tinha a firmeza de que nos falou Che Guevara, sem "perder a ternura jamais". No Brasil de hoje, acrescento sem medir palavras, falta um homem como Luís Carlos Prestes.
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Com pouco menos de 20 capítulos e algo em torno de 500 páginas, Luís Carlos Prestes, um comunista brasileiro, com todas as restrições que se lhe possam fazer, é resultado de mais de trinta anos de pesquisa em livros, artigos e outros documentos existentes no Brasil e no exterior. Percorre a trajetória de Prestes desde a infância até à morte, em 1990. Escrita por sua filha, Anita Leocádia Benário Prestes, com a icônica Olga Benário, assassinada pela Gestapo, a biografia faz rápida alusão aos acontecimentos de instalação da ANL, mas é precisa ao traçar o perfil do homenageado. Recomendo.
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