A propósito de texto recente, neste espaço, leitora faz uma acusação no mínimo incômoda contra este escriba: - "Sua crônica faz a apologia do adultério".
Li isso e falei para os meus botões: 'Ela não entendeu nada'. Ato contínuo, mostrei para amigos a crônica e o comentário, admitindo que, sob algum aspecto, o texto pudesse levar a tal conclusão. Ninguém, as mulheres sobremaneira, achou que a crônica pudesse ensejar uma defesa da traição.
Dito isso, volto ao assunto -- uma forma de dirimir dúvidas que as minhas afirmações, eventualmente, tenham ocasionado a outros leitores.
O texto, para quem não leu a referida crônica, intitula-se Quem sabe isso quer dizer amor. Nele, reporto-me ao fato de que cada vez mais a sexualidade constitui tema nas conversas informais, o que, dizia eu, é bom para o amadurecimento das pessoas acerca de algo que move a vida de todos nós, e que, infelizmente, nem sempre foi encarado com naturalidade, constituindo, mesmo, um tabu, um desconforto para muitos. Para a leitora que me acusa de "apologista do adultério", por certo.
Tudo pelo fato de que citei no texto as afirmações da americana Gracie, 48, esta, sim, defensora apaixonada da liberdade sexual, mesmo depois do casamento, como forma de manter turbinado o interesse pelo marido Oz, 41, para quem as "escapulidas" da mulher antes contribuem para o fortalecimento de sua relação conjugal. Do que não discordam as filhas do casal, importante frisar.
Em momento algum, todavia, este colunista emitiu opinião condizente com a estranhíssima alternativa do casal americano para a preservação dos motivos e motivações mais elevados por que se devem nortear os relacionamentos, oficializados ou não. E não estou falando de amor, esta "palavra-tudo" tão banalizada, tão trivializada no discurso contemporâneo da mídia e dos aventureiros de plantão. Falo de paixão, de gosto, de tesão, de cumplicidade, de amizade, de respeito, de admiração, de vontade de continuar dividindo com o outro o milagre da vida. Sem isso, de que vale tentar segurar a barra e manter de pé o que já morreu, o que não mais se sustenta se não artificialmente, por força de conveniências ou falta de coragem para recomeçar?
Coincidentemente, agora sobre Conversas de cinéfilo, a última crônica do blog, outra leitora faz o seguinte comentário: - "Gostei da referência ao filme As pontes de Madison, um dos meus preferidos. Que coisa linda!".
Trata-se do filme dirigido e estrelado por Clint Eastwood, 1995, baseado no livro homônimo de Robert James Waler, que narra o romance que durou quatro dias entre um fotógrafo da National Geografic e uma mulher casada no condado de Madison, Iowa, só conhecido da família em carta deixada aos filhos após a morte dela. O filme discute o tema do adultério à luz da renúncia à felicidade em favor da preservação de um casamento falido.
É sagrado o direito de criticar. Mas não aplaudo a crítica que não faz justiça, e que prescinde da elegância.