sexta-feira, 1 de julho de 2016

Quem sabe isso quer dizer amor

Nos tempos de hoje, falar sobre sexo é uma constante mesmo nas rodas mais conservadoras. O fato, se por um lado tempera o entusiasmo nas mesas dos restaurantes, nas rodas entre amigos, por exemplo, faz corar os menos afoitos na revelação de suas vidas íntimas em tudo que diz respeito ao sexo  --  numa atitude que transita do pensamento mais casto às interpretações religiosas mais variadas. Tudo sob as tentações que os avanços das tecnologias ensejaram também sob este aspecto, internet à frente.
Puritanismo à parte, é impossível fechar os olhos para o que é uma realidade factual. Noutras palavras, ou você encara o tema com tranquilidade, procurando tirar disso o melhor proveito (refiro-me à percepção racional e equilibrada de que o sexo, queira-se ou não, movimenta a vida de cada um de nós) ou não oferece acesso a uma significativa porção do que se conversa com frequência em todos os lugares. Numa palavra, age como um presunçoso imune ao que se define como alteridade, ou seja, a aceitação do "diferente" como elemento que sempre mais adquire centralidade e relevância na filosofia moderna. 
Durante a semana, ocorre-me lembrar, duas declarações femininas ocuparam espaço na imprensa brasileira e internacional. Refiro-me, primeiramente, às afirmações impactantes da professora de pilates Gracie, 48, de que ter relações sexuais com desconhecidos a torna melhor como mulher e mãe. Ela e Oz, 41, o marido, também americano, fazem parte de uma comunidade não monogâmica da Califórnia, onde vivem, nos Estados Unidos, cujo preceito central autoriza seus membros a ter experiências extraconjugais fora do casamento. Para ela, com o que concorda o marido, "fazer sexo fora do casamento me torna uma mãe fantástica", pois a deixa com mais entusiasmo pela vida. Mais, a professora Gracie afirma que nem mesmo um pedido dos filhos a faria abrir mão do que considera uma alternativa infalível para estar permanentemente de bem com a vida. Inclusive a vida a dois. 
Tema delicado, como se vê, mas nada que soe tão absurdo a ponto de impedir que se converse sobre ele, o que, pelo lado positivo, constitui uma prova de que as pessoas estão mais abertas para discutir sua sexualidade, algo verdadeiramente indispensável para manter feliz o relacionamento amoroso. E não se trata, claro, de achar certo ou errado o que, na ótica de uns poucos, como é o caso da professora americana, materializa uma alternativa eficaz contra a tepidez ou ausência de vigor das emoções que devem por certo orientar o que se costuma considerar um bom casamento. Falar sobre isso, mesmo para defender opinião contrária, pode ajudar no interminável processo de amadurecimento da sexualidade de homens e mulheres. Este é um dos casos em que se pode afirmar: ninguém é dono da Verdade, assim, com maiúscula platônica. 
O outro caso, mais leve, mas não menos curioso para o debate entre os amigos do happy hour, resulta de uma declaração da global Cleo Pires, uma das atrizes brasileiras mais prestigiadas da atualidade, que acaba de lançar um site e um canal no Youtube em que afirma não ter pudor no que diz respeito a sua sexualidade. Para ela, fazer ménage a trois (sexo a três) seria perfeitamente normal, contanto que seja "tudo combinado entre as partes". Numa prova de que ninguém, em termos sexuais, nunca está totalmente preparado para o que ultrapassa os limites do convencional (mesmo os que se mostram menos afeitos a tabus), Pires deixa escapar outra afirmação que me parece contraditória: "Três só se for com dois homens, porque uma outra mulher na minha cama... Os meus homens são meus". É que existe, como no caso, "machismo" feminino. 
A atriz discorre, ainda, sobre "fantasia" como forma de reacender o fogo do que um dia fez você tremer diante do homem ou da mulher amada. Cita o caso de uma amiga para quem algumas fantasias têm sido a salvação do casamento. Fala de Shibari, amarrações sadomasoquistas japonesas que a própria Cleo Pires diz aprovar sem restrição. "Eu tenho essas fantasias, mas não tenho ninguém para fazer comigo". Como se trata, inequivocamente, de uma das mulheres mais desejadas do imaginário masculino (e feminino, por que não?), conclui-se que ninguém mesmo está livre por inteiro da solidão, do abandono sexual a que todos podem se sentir condenados um dia. E que se torna, não se pode esconder, uma dificuldade sem nome quando se trata de velhos relacionamentos. 
Para o bem ou para o mal, o certo é que todos devemos nos posicionar sem pruridos conservadores e puritanos sempre que o tema da sexualidade entrar na pauta do dia como um desafio. No mínimo, ouvir opiniões diferentes daquelas que reproduzimos através dos anos, e que por isso mesmo podem ter perdido muito de sua validade, pode nos apontar caminhos e ressignificar a vida de cada um de nós. Vai ver, como na canção do Milton, quem sabe isso quer dizer amor.
 
 
 
 
 
           

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