sexta-feira, 12 de maio de 2017

Tomando o jogo, como é comum no futebol

Aos poucos, na medida em que se revela incapaz de esconder suas motivações subjetivas, o juiz Sergio Moro vai deixando cair sua máscara de justiceiro e dando a ver sua verdadeira face.

Quem acompanhou a cobertura do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (mesmo pelas reportagens em que o trabalho de edição mostrou-se levianamente tendencioso contra o depoente), basta ter um mínimo de consciência para constatar a forma pouco isenta com que Moro conduziu a audiência. Repetiu perguntas estranhas ao processo em pauta, manipulou informações, criou-as a fim de embaraçar o "réu" etc. No momento em que alegou ter em mãos um documento comprometendo Lula, o tiro saiu pela culatra e, desavergonhadamente, teve de tornar público que se tratava de uma proposta de compra do tríplex não assinada, a exemplo do que ocorre invariavelmente em intenções de compra e venda de imóveis.

Na edição de hoje da Folha de S. Paulo, evidenciando sua contrariedade com o que resultou de uma iniciativa de reportagem a fim de analisar o depoimento do ex-presidente em Curitiba, o matutino publicou uma matéria, sob o título "Lula errou pouco, avaliam advogados", que materializa a quase absoluta decepção da turma da direita, mesmo aqueles que há muito venderam sua alma ao diabo e para os quais "consciência" é ferramenta de defender interesses e assegurar vantagens, a assustadora maioria dos empresários à frente. Vejamos.

Foram ouvidos três dos profissionais que o jornal considera os maiores especialistas em direito penal, Gustavo Badaró, professor da USP, Alberto Toron, criminalista e professor da Faap, e Thiago Bottini, professor do curso de direito da FGV, do Rio de Janeiro. Para o primeiro, "Lula não se saiu mal no interrogatório". Segundo afirma, o ex-presidente foi transparente ao confirmar encontros e situações que os investigadores conheciam, "mas negou atos ilícitos". Para o segundo, a forma como o juiz Sérgio Moro conduziu o interrogatório revela a intenção de "dobrar" o réu, como se fazia na ditadura militar (1964-1985)". Já, para Bottini, "o juiz tem revelado um comportamento parcial não só no caso do ex-presidente".

Para ele, "Moro faz muito mais perguntas do que o Ministério Público, o que o torna um sujeito não ideal para julgar". E conclui: "Ele [o juiz Sergio Moro] não cumpriu inteiramente o papel de juiz imparcial no interrogatório de Lula". Sem comentários.

Em que pese tratar-se de um jornal assumidamente contrário ao PT e a Lula, a que se deve creditar muito do massacre a que foi condenado o ex-presidente nesses últimos anos, de forma explícita e descaradamente tendenciosa, necessário frisar, a matéria reconhece que Lula "não deu o show que gostaria, mas conseguiu evitar que o interrogatório conduzido pelo juiz Sergio Moro gerasse contradições que pudessem incriminá-lo no caso do apartamento tríplex".

Por último, o que surpreende até mesmo o menos radical dos golpistas, a mesma edição do principal jornal do país traz um artigo do ultradireitista Reinaldo Azevedo, ressaltando a parcialidade de Sergio Moro, que me parece digno de nota: "O que se deu em Curitiba não é nem pode ser um exemplo a ser seguido. A menos que se venha a fazer a escolha pelo terror jurídico". E, prossegue o mais reacionário jornalista brasileiro, com a seguinte afirmação: "O juiz [Sergio Moro] resolveu fazer a versão PowerPoint de Dalton Dallagnol . Todo o esforço consistiu em arrancar contradições de Lula que revelassem o chefe de uma organização criminosa".

Surpresos? Pois tomo a liberdade de fechar esta coluna com palavras do próprio Reinaldo Azevedo: "O MPF não conseguiu produzir a prova de que Lula é dono oculto do apartamento. Documentos de fé publica atestam que ele pertence à OAS". Pasmem. 

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