À parte o fato de ter sido o marco inaugural do surgimento dos totalitarismos modernos, A Revolução Russa, à distância de exatos cem anos, não pode passar despercebida no calendário dos maiores acontecimentos mundiais de todos os tempos. Não à toa, pois, chegam às livrarias trabalhos importantes para festejar, analisar, comentar ou, mesmo, condenar a queda do regime dos czares em fevereiro de 1917 e a tomada definitiva do Palácio de Inverno oito meses depois.
O fato, entre muitas outras consequências, enseja que se leve a efeito uma revisão da própria terminologia com que se definem tais acontecimentos, notadamente num momento em que, mundo afora, reacendem-se de modo preocupante os focos do mais abominável reacionarismo.
No Brasil, sem que sequer sejam esboçados movimentos de resistência a esse estado de coisas, na linha do que se pode verificar como fundamento de um governo espúrio e em pronunciamentos ameaçadores às conquistas democráticas e a desconstrução do estado de direito, a palavra reinsere-se no discurso de forças retrógradas e militares capitaneadas por figuras esdrúxulas como Jair Bolsonaro.
Tudo, insista-se, aos olhos de uma sociedade civil desorientada e sob a impotência de organizações partidárias que se digam capazes de separar o joio do trigo e esclarecer o perigo que tais declarações representam para o país.
É nesse contexto que, vira e mexe, na sintonia de interesses econômicos muitas vezes inconfessáveis e sob a chancela de uma elite perversa, ao que se junta a atuação acumpliciada de uma imprensa inescrupulosa, ouve-se, à exaustão, o termo "revolução" para classificar o que não deveria receber outro nome que não o de "golpe".
No mês em que se revisita a Revolução Russa, portanto, é necessário que se dê à palavra o seu verdadeiro significado: o triunfo e a tomada de poder pelos menos favorecidos, os excluídos de uma sociedade autoritária e injusta, os trabalhadores de variados status e toda a gente oprimida que brota nas cidades e nos rincões mais longínquos de qualquer país.
Por revolução, insisto, deve-se entender os movimentos de inspiração igualitária, que visam a distribuir a terra e a riqueza, abolir as classes e levar ao poder os trabalhadores, a exemplo da Comuna de Paris (1871), da Revolução Mexicana (1910), das Revoluções Alemã e Húngara (1919), da Revolução e da Guerra Civil Espanhola (1936), da Revolução Chinesa (1949), da Revolução Cubana (1959) e, há exatos cem anos, da Revolução Russa (1917), para citar as principais.
Em nome da revolução, infelizmente, a História não pôde deixar de registrar a prática de atrocidades inomináveis. Com a Revolução Russa, em seu viés stalinista, não foi diferente.
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