"E eu que ouvia o que não dizias, apaixonei-me por ti porque calavas!", Stecchetti, poeta italiano.
Na vida, quase sempre, é assim. A gente não observa as pausas, não valoriza o silêncio. E, no entanto, quanta coisa ruim poderia ser evitada. Quantas feridas abertas a menos, quanto sofrimento... É que quase nunca percebemos o momento de calar, de ouvir mais o outro. Nos relacionamentos, não raro, acontece de uma palavra desnecessária pôr por terra o que se ergueu com tanto entusiasmo, o que se fez com tanto amor. Na ânsia de construir, destruímos. Na vontade de fazer valer a nossa vontade, não observamos as pausas, não valorizamos o silêncio. E o mundo desmorona.
Consta que a primeira montagem de A Gaivota, em 1896, fora um fiasco. De público e de crítica. Uma pena, leve-se em consideração que o texto é maravilhoso, poético, de uma harmonia estética invulgar. O próprio autor dissera sobre ela: - "[...] uma comédia, três papeis de mulher, seis para homens, quatro atos, uma paisagem (vista para o lago), muitas conversas sobre a literatura, um pouco de ação, um toque de amor." Mas o público a repudiara. Não se observaram as pausas, não se valorizara o silêncio.
Dois anos mais tarde, sob nova direção, marcaria época no teatro universal. Desde então, uma gaivota passou a ser o símbolo do Teatro de Arte de Moscou, uma das mais prestigiadas casas de espetáculo do mundo.
Como se explica que uma mesma peça seja um fracasso hoje, um sucesso estrondoso pouco tempo depois? Simples: Stanislávski, que a dirigiu numa segunda montagem, percebera na obra uma economia de voz, de movimento, uma contenção de gestos, como jamais alguém fizera. Numa palavra: observou as pausas, valorizou o silêncio.
Na vida, como no teatro, a essência das coisas muitas vezes está nas entrelinhas, num gesto que quase não se percebe, numa palavra que não se diz, num sinal que nunca vemos...
Nas pequenas coisas da vida estão os mais fortes sentimentos, as maiores aflições. Todavia, quantas vezes não deixamos de fazer na vida como Stanislávski no teatro? Não observamos as pausas, não valorizamos o silêncio...
E, no entanto, é em silêncio que fala a eternidade de Deus.
Feliz Páscoa!