sábado, 24 de março de 2018

Os livros e as Mulheres

A minha relação com os livros tem sempre um componente passional, assumo! Via de regra, começa com um flerte, a uma certa distância, quase sempre na vitrine da loja.

Como em se tratando das mulheres, me chama a atenção a forma como se vestem. Adoro as discretas, que sabem com aparente desleixo compor o traje, combinando bem a textura dos tecidos com a expressividade das cores. As que exibem sua beleza com discrição e charme. As que sugerem displicência e, sob a capa, revelam-se antenadíssimas, e tudo sabem. Enciclopédicas.

No caso deles, os livros, há os que, já de longe, impressionam pela encadernação, o look da capa, o colorido da gravura (quando têm gravura!), a elegância com que se apresentam, sem afetação.

Assim, é comum que me apaixone por um desses como por uma mulher, meio sorrateiro, como quem finge não querer e quer. Mas, de perto, e mal disfarçando, é preciso checar antes o volume do corpo, a maciez da pele, e, importante!, quais as intenções com que veio parar à sua frente.

Curioso: logo se estabelece a comunicação. Entre intimidados e desejosos, aproximamo-nos, um tanto sorrateiros e desconfiados, ainda.

Aí, vem a primeira troca de informações, a primeira sugestão de intimidade; a mão no dorso, ligeiramente arredondado, nunca esquelético, e gostoso de pegar.

Em pouco tempo, se a atração se confirma, a entrega é mútua. Os primeiros afagos, os toques sutis e o cheiro bom, que provoca um ligeiro arrepio de pelos. E a gente vai sentindo uma vontade de levar para casa, de se entregar horas a fio no bem-bom, agarradinhos e afáveis. Detalhe: quase sempre na cama.

Mas há que se tomar cuidado, posto que existem os enganosos, os que vendem gato por lebre e são mal intencionados.

Há os surpreendentes, os que decepcionam, os reticentes, os vulgares, os indecentes.

Os passageiros.

Um grande livro, como uma grande mulher, tem poderes para transformar sua vida, de operar milagres...

Como as mulheres, há os rebuscados, os artificiosos, os superficiais.

Há os tímidos, que vão se revelando aos poucos. A esses, deve-se abandonar por uns tempos, dando-lhes, quando muito, uma chance aqui, outra acolá, alimentando possibilidades. Não raro, valem a pena, e, dia desses, sem que você espere, são capazes de lhe deixar nas nuvens. Delícia.

Há, no entanto, aqueles que você mal larga vem um outro e...

Vulgarizam-se, e, para seu desencanto, andam logo de mão em mão. Banalizam as relações.

Como entre elas, há os invejosos, os sem originalidade, que querem ser o que não são.

Não se surpreenda. Há os demasiado formais, os levianos, os que preferem a meia-luz, outros, a plena claridade. Há os lentos, cheios de rodeios, os apressados, que vão direto ao assunto. Falta-lhes uma pitada de poesia.

Há os que adoram as preliminares, os que deixam você em êxtase, mas logo perdem a graça.

Um bom livro, é que nem a mulher amada: você não dá, não troca, não empresta.

A esses, como à mulher que tenho, sou fiel, tenho sempre ao alcance da mão, e, dedos em cruz, posso afirmar: --- "Nunca traio, e sou incapaz de uma ingratidão". 

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