quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Morre Niemeyer, O Gênio

Como todo brasileiro medianamente bem informado, escrevo a coluna de hoje sob o efeito de uma notícia que nos entristece: "Morreu Oscar Niemeyer". Não importa que já estivesse velhinho, que seu corpo já não suportasse o peso dos seus quase 105 anos, que completaria no dia 15. Não importa que sua saúde, debilitada nos últimos meses, não mais lhe permitisse viver plenamente, como o fez durante mais de um século, altivo e galhardo, belo e resistente como o concreto com que escrevia sua poesia incomparável. Nada disso importa, quando se está diante de uma verdade insofismável: Morreu o maior brasileiro dos últimos 100 anos, e todos nós, em alguma medida, ficamos mais pobres sem ele.
 
Porque Oscar Niemeyer não foi apenas um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos (quiçá o maior). Oscar Niemeyer foi um dos maiores brasileiros de toda a História deste país, e mesmo aqueles para quem a sua morte aparentemente nada represente, terão perdido uma voz que falava em seu nome. Porque Oscar Niemeyer sonhou e lutou, a seu modo, por um país mais humano, mais decente, mais livre e mais igualitário para todos nós, ricos e pobres, cultos e iletrados, de qualquer cor, de qualquer credo, de qualquer raça...
 
Algumas de suas obras, pela sensualidade e pela leveza que encerram, com suas curvas e seu lirismo, antes, jamais explorados na história da arquitetura, abriram uma nova página em termos da capacidade de invenção do homem. Falo da Catedral de Brasília, falo do Palácio da Alvorada, falo do Palácio da Justiça, falo do edifício do Congresso Nacional, falo de Brasília como um todo.
 
Para não falar da sede da ONU, em Washington, para não falar da Universidade de Constantine e da Mesquita de Argel, na Argélia, para não falar do Centro Cultural Le Havre - Le Volcan, na França, para não falar da Feira Internacional e Permanente do Líbano, para não falar do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, para não falar do Parque do Ibirapuera, do Memorial da América Latina e do Copan, em São Paulo, imensa onda em concreto a abrigar brasileiros de diferentes classes sociais. Para não falar, sobretudo, do conjunto arquitetônico da Pampulha, da igrejinha de São Francisco de Assis, sua primeira e genial obra, a poucos passos de onde escrevo a coluna de hoje.
 
Há poucos dias, como estivesse me visitando uma amiga em Belo Horizonte, levei-a a conhecer a obra de Oscar Niemeyer, na Pampulha, como quase tudo neste país, infelizmente, tão abandonada em sua solidão e seu deperecimento, que o tempo, implacável, também é capaz de fazer marcas no concreto. O mesmo tempo que, na longa prorrogação de muitos e muitos anos, finalmente ontem, quinta-feira 5, a dez dias dos seus 105 anos, venceu mais essa luta  -- e nos roubou de nós, brasileiros, "O Gênio" Oscar Niemeyer.
 
 
 
 
           

Um comentário:

  1. Prezado Álder

    Parabéns por sua bela crônica, que com a sensibilidade que lhe é tão peculiar, soube ser o porta-voz de tantos brasileiros nesta justa homenagem, expressando nossos sentimentos pela perda do grande arquiteto, artista, brasileiro e humanista que foi Niemeyer. Um forte abraço e agradecimentos por fazer nossas, suas palavras.

    José Luiz

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