Ao final da peça, o próprio Antônio Fagundes fez o convite para o debate sobre Vermelho, com ele e o filho Bruno, no SESC Palladium, em BH. Sobre o espetáculo, discorrerei daqui a pouco. Enquanto levanto a questão em torno da metalinguagem presente no texto de John Logan (a arte voltando-se sobre si mesma) o famoso ator, que se mostra uma pessoa extremamente acessível, revela-se pessimista em relação ao teatro tal qual o compreendemos ainda hoje: - "Com o stand-up dominando a cena, o teatro clássico, como vocês viram hoje, está ameaçado e pode vir a desaparecer!"
Fagundes refere-se a um gênero muito em voga na atualidade, que se caracteriza por prescindir dos elementos dramáticos tradicionais. Tem origem americana e gira, em geral, em torno da figura de um humorista, o qual se apresenta em pé (daí o termo stand-up), só com o microfone e de "cara limpa". No Ceará esse tipo de espetáculo tem sido a tônica, revelando talentos e enganadores. Mas voltemos à peça de Logan.
Plasmada na vida e obra de Mark Rothko, pintor nascido na Letônia e naturalizado americano, o espetáculo explora à perfeição o drama existencial de um artista grandioso a quem se deve atribuir uma das contribuições mais marcantes do Expressionismo Abstrato, ou seja, da arte não figurativa que colocaria as artes plásticas dos Estados Unidos ao par do que se fez de mais importante no modernismo mundo afora. Não é muito dizer, por exemplo, que essa arte transferiu o centro criativo das artes visuais de Paris para Nova York.
Orientado pela absoluta liberdade no ato de criação, o que o aproxima do automatismo dos surrealistas, com o seu elevado senso de improvisação, o Expressionismo Abstrato teve na action painting de Jackson Pollock e na pintura mais estruturada de Robert Motherwell pontos mais relevantes, sem contar, óbvio, nos retângulos sobrepostos de elevado senso estético assinados por Rothko.
Como o título da peça sugere, o vermelho e suas muitas variações tonais constituem o elemento cromático mais significativo da obra do atormentado pintor. A uma dada altura do espetáculo, montado a partir de um texto de qualidades literárias inegáveis, ele tem uma fala que revela o seu conflito psicológico exemplarmente simbolizado pela cor vibrante: - "Você quer dizer escarlate? Ameixa-amora-magenta-borgonha-salmon-carmin-coral? Qualquer coisa, menos vermelho!" Vê-se, aí, a complexa personalidade de Mark Rothko, um homem ansioso e irascível.
O conflito entre o artista frio e o homem de temperamento explosivo, indomável, doentemente autocentrado, que é o eixo central da peça, levaria Rothko a viver uma vida de crises constantes, culminando com o seu suicídio em fevereiro 1970. Ele deixou uma obra que, ano após ano, vem batendo recordes de preço aparentemente incompatíveis com a simplicidade de sua arte a um tempo racional e inquieta. A interpretação de Antônio Fagundes beira a perfeição em sua absoluta sintonia com o perfil dramático de um gênio do abstracionismo. Pena que o debate, pela heterogeneidade do público, tenha deslizado para a tietagem que mais aborreceu que agradou o astro da Globo.
Fagundes refere-se a um gênero muito em voga na atualidade, que se caracteriza por prescindir dos elementos dramáticos tradicionais. Tem origem americana e gira, em geral, em torno da figura de um humorista, o qual se apresenta em pé (daí o termo stand-up), só com o microfone e de "cara limpa". No Ceará esse tipo de espetáculo tem sido a tônica, revelando talentos e enganadores. Mas voltemos à peça de Logan.
Plasmada na vida e obra de Mark Rothko, pintor nascido na Letônia e naturalizado americano, o espetáculo explora à perfeição o drama existencial de um artista grandioso a quem se deve atribuir uma das contribuições mais marcantes do Expressionismo Abstrato, ou seja, da arte não figurativa que colocaria as artes plásticas dos Estados Unidos ao par do que se fez de mais importante no modernismo mundo afora. Não é muito dizer, por exemplo, que essa arte transferiu o centro criativo das artes visuais de Paris para Nova York.
Orientado pela absoluta liberdade no ato de criação, o que o aproxima do automatismo dos surrealistas, com o seu elevado senso de improvisação, o Expressionismo Abstrato teve na action painting de Jackson Pollock e na pintura mais estruturada de Robert Motherwell pontos mais relevantes, sem contar, óbvio, nos retângulos sobrepostos de elevado senso estético assinados por Rothko.
Como o título da peça sugere, o vermelho e suas muitas variações tonais constituem o elemento cromático mais significativo da obra do atormentado pintor. A uma dada altura do espetáculo, montado a partir de um texto de qualidades literárias inegáveis, ele tem uma fala que revela o seu conflito psicológico exemplarmente simbolizado pela cor vibrante: - "Você quer dizer escarlate? Ameixa-amora-magenta-borgonha-salmon-carmin-coral? Qualquer coisa, menos vermelho!" Vê-se, aí, a complexa personalidade de Mark Rothko, um homem ansioso e irascível.
O conflito entre o artista frio e o homem de temperamento explosivo, indomável, doentemente autocentrado, que é o eixo central da peça, levaria Rothko a viver uma vida de crises constantes, culminando com o seu suicídio em fevereiro 1970. Ele deixou uma obra que, ano após ano, vem batendo recordes de preço aparentemente incompatíveis com a simplicidade de sua arte a um tempo racional e inquieta. A interpretação de Antônio Fagundes beira a perfeição em sua absoluta sintonia com o perfil dramático de um gênio do abstracionismo. Pena que o debate, pela heterogeneidade do público, tenha deslizado para a tietagem que mais aborreceu que agradou o astro da Globo.
Saudações, Álder!
ResponderExcluirO stand-up e os musicais – nada contra estes – estão mesmo ganhando muita força. O teatro clássico sempre terá seu espaço, mas as montagens serão cada vez menores. A pena aqui fica por conta do público e suas “misturas”, no espetáculo Vermelho, que não deu brechas para esse gostoso debate sobre a arte. A vida segue.
Sucesso sempre!