segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tristeza e depressão

Acabo de ler a corajosa entrevista do psiquiatra mineiro Miguel Chalub, na revista IstoÉ desta semana. Aos 70 anos, dono de um respeitável currículo, Chalub ataca de frente algumas questões que envolvem pacientes e médicos, lobby da indústria farmacêutica e o despreparo da maioria dos profissionais para lidar com problemas emocionais comuns nos dias de hoje. Para ele, grande parte dos pacientes que procuram os consultórios médicos é, em realidade, composta de portadores de sentimentos absolutamente normais, inadequadamente tratados como depressão, o que resulta na prescrição de drogas o mais das vezes desnecessárias e prejudiciais.

Professor das universidades Federal (UFRJ) e Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ele afirma que os médicos não especializados no tratamento de problemas psicológicos não têm capacidade para identificar as diferenças existentes entre tristeza normal e tristeza patológica. O mais grave é que Chalub afirma sem meias-palavras: "Os laboratórios pagam passagens, dão brindes. Você, sem perceber, começa a fazer esse jogo."

Referindo-se às estimativas da OMS, de que, até 2030, a depressão será a doença mais comum do mundo, o médico mineiro afirma haver exagero nessas previsões. Segundo ele, tanto médicos quanto pacientes não estão fazendo diferença entre tristeza normal e depressão. Assim, problemas sentimentais absolutamente naturais, como os decorrentes das separações amorosas, situações de estresse, como chateação, aborrecimento, ansiedade etc., são logo vistos como patológicos e combatidos com drogas que nunca deveriam ser prescritas para esses pacientes. É o que Chalub chama de "medicalização da tristeza".

O ponto alto da entrevista, no entanto, ocorre quando discorre sobre a busca da felicidade. Diz ele, "Qualquer coisa que possa atrapalhá-la [a pessoa] tem que ser chamada de doença..." e se pode dizer: "Eu não sou feliz porque estou doente e não porque fiz opções erradas."

Para Chalub, os médicos se vendem por benesses as mais bizarras, como viagens, laptops e outros mimos mais, o que ensejou uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibindo os laboratórios de presenteá-los de alguma forma. Para ele, ainda, a definição de saúde dada pela OMS se aplica mais adequadamente como definição de felicidade: "A saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social." De fato.

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