Uma flor nasceu na rua/Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego/Uma flor ainda desbotada/Ilude a polícia, rompe o asfalto/Façam completo silêncio, paralisem os negócios,/Garanto que uma flor nasceu./É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu os versos acima, uma bela porção do que há de mais representativo de uma fase de sua trajetória, por volta dos anos 40,45, quando trouxe a lume os livros mais engajados de sua obra, a exemplo de Sentimento do Mundo e A Rosa do Povo, o fez lançando mão de um princípio aristotélico que orienta a produção artística: "Não é ofício do poeta narrar o que acontece, e, sim, o de representar o que poderia acontecer, o que é possível, pois a poesia é mais filosófica e mais elevada do que a História, pois esta se refere ao particular e aquela ao universal".
O que era apenas uma metáfora genial, pois, nascida da sensibilidade e do poder de criação de um artista atento à dor coletiva, à angústia e à miséria dos tempos modernos, parece ser mesmo uma realidade hoje. Está na edição desta segunda-feira, 28 de janeiro de 2013, da Folha: "[...] Uma árvore rompe o concreto do elevado Costa e Silva, em São Paulo".
Segundo a matéria, a árvore, a rigor, são 20 brotos nascidos das rachaduras do viaduto, um dos muitos monstros construídos pelo homem como alternativa para o problema do tráfego na maior e mais importante cidade do país.
Nascem do milagre, advindas dos grãos de que se alimentam os pombos da região, dos restos de comida e das sementes carregadas pelo vento, como se a vida, num passe de mágica, insistisse em se dizer possível em meio à irracionalidade, o materialismo e à ausência de humanidade dominantes.
Aqui em Belo Horizonte, nas minhas caminhadas de fim de tarde, todos os dias atravesso um elevado bem em frente ao Mineirão, cujas obras, praticamente concluídas, constituem um dos orgulhos das autoridades locais, pelo que ostentam de grandioso e moderno.
Mas não é a pujança das construções, nem as curvas desafiadoras do concreto o que mais me impressiona ali, mas a presença de árvores (uma delas frondosa) que sobrevivem, sabe o improvável como, bem debaixo de alguns desses viadutos. Estão lá, maltratadas, sem a luz que lhes dê a vitalidade natural de que carecem, mas resistem, carregadas de simbologia, como num quadro surrealista de Dalí.
Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu os versos acima, uma bela porção do que há de mais representativo de uma fase de sua trajetória, por volta dos anos 40,45, quando trouxe a lume os livros mais engajados de sua obra, a exemplo de Sentimento do Mundo e A Rosa do Povo, o fez lançando mão de um princípio aristotélico que orienta a produção artística: "Não é ofício do poeta narrar o que acontece, e, sim, o de representar o que poderia acontecer, o que é possível, pois a poesia é mais filosófica e mais elevada do que a História, pois esta se refere ao particular e aquela ao universal".
O que era apenas uma metáfora genial, pois, nascida da sensibilidade e do poder de criação de um artista atento à dor coletiva, à angústia e à miséria dos tempos modernos, parece ser mesmo uma realidade hoje. Está na edição desta segunda-feira, 28 de janeiro de 2013, da Folha: "[...] Uma árvore rompe o concreto do elevado Costa e Silva, em São Paulo".
Segundo a matéria, a árvore, a rigor, são 20 brotos nascidos das rachaduras do viaduto, um dos muitos monstros construídos pelo homem como alternativa para o problema do tráfego na maior e mais importante cidade do país.
Nascem do milagre, advindas dos grãos de que se alimentam os pombos da região, dos restos de comida e das sementes carregadas pelo vento, como se a vida, num passe de mágica, insistisse em se dizer possível em meio à irracionalidade, o materialismo e à ausência de humanidade dominantes.
Aqui em Belo Horizonte, nas minhas caminhadas de fim de tarde, todos os dias atravesso um elevado bem em frente ao Mineirão, cujas obras, praticamente concluídas, constituem um dos orgulhos das autoridades locais, pelo que ostentam de grandioso e moderno.
Mas não é a pujança das construções, nem as curvas desafiadoras do concreto o que mais me impressiona ali, mas a presença de árvores (uma delas frondosa) que sobrevivem, sabe o improvável como, bem debaixo de alguns desses viadutos. Estão lá, maltratadas, sem a luz que lhes dê a vitalidade natural de que carecem, mas resistem, carregadas de simbologia, como num quadro surrealista de Dalí.