Viajei mundo afora e já morei em diferentes cidades, mas foi esta temporada em Belo Horizonte que me serviu para confirmar o que, até então, era apenas uma presunção: existem cidades leves e cidades pesadas, cidades solares e cidades lunares, não representando esses adjetivos qualquer juízo de valor. Antes pelo contrário, são perfis "psicológicos", tal como é possível ver em se tratando de pessoas. Algumas são mais introvertidas, aparentemente antipáticas, vai ver de perto, que nada! Outras mais "dadas", mais comunicativas etc. Cidades são como gente.
BH, em que pese ser uma cidade muito interessante, sob tantos aspectos, intelectuais e artísticos, sobretudo, é uma cidade pesada e lunar. Você acorda, de manhã, e já depara com o peso de uma cidade que carrega em seu bojo um arquivo histórico incompatível com a leveza do que se supõe ser, digamos, a modernidade.
Fortaleza, por sua vez, para falar de uma cidade que se contrapõe às cidades pesadas, como Belo Horizonte, é uma cidade leve, de uma leveza que a diferencia no conjunto das cidades turísticas brasileiras. E solar. Acima de tudo, é uma cidade solar. Nada a ver com o fato de ser uma cidade em que faz sol o ano inteiro. O adjetivo solar, aqui, serve para definir um traço de caráter, uma cidade em que as pessoas têm o espírito aberto, o sorriso solto. Em Fortaleza, em que pesem os problemas de uma cidade poucas vezes bem assistida administrativamente (para não falar de suas contradições sociais alarmantes), as pessoas se mostram descontraídas, otimistas, confiantes... Felizes, é isto! Há uma certa voluptuosidade contida, um desejo de se dar e de receber, uma ternura inata, um senso de alteridade aguçado. O prazer de viver, de se comunicar com o outro. Se o leitor (ou leitora) desconfia do que estou falando -- e não conhece Fortaleza --, que tal dar um pulinho na capital cearense e curtir um pouco as nossas praias?
Não à toa, Fortaleza é o celeiro de humoristas que é. O povo da cidade é afeito à gargalhada, tem a alma e os braços abertos para o que está por vir. Tira sarro de tudo, de todos. Depois de 30 anos de estrada, de romper os céus do Brasil e do mundo, em viagens sem conta, não tenho dúvidas em afirmar: Fortaleza é a cidade mais acolhedora deste país, talvez a cidade mais acolhedora do mundo.
É claro que há incontáveis outras cidades como Fortaleza, leves e solares, simpáticas, acolhedoras... Mesmo no Nordeste. Salvador, por exemplo, é leve e extremamente solar. Tem uma malandragem que é própria da leveza da cidade, uma malemolência que é a marca do seu perfil solar. Recife, não. Recife é pesada, e lunar, mesmo com o sol e o frevo. Maceió é leve, solar. Aracajú, pesada, lunar. O Rio de Janeiro é a cidade mais leve do Brasil, mais solar, ainda quando castigada por enchentes e tempestades, como a cada início de ano. São Paulo fica a meio termo, mas não consegue esconder o peso do que se mexe em suas entranhas, o acervo indisfarçável de suas imensas contradições. Mas, se se faz esclarecedor o uso de uma metáfora, vá lá, São Paulo é o gordo elegante, endinheirado, às vezes arrogante, mas charmoso, com uma irresistível capacidade de sedução. Sampa, a obra-prima de Caetano que o diga, como diz com perfeição.
O lado mais leve e solar, no entanto, espalha-se pelo interior do Estado, Piracicaba à frente. Pira, como dizem os que lhe são íntimos, é uma cidade leve, levíssima, solar, mesmo quando faz frio, mesmo quando o céu se fecha e as nuvens de chuva se fazem perceber, ameaçadoras. Por isso o timbre vibrante, a dicção um tanto caipira, de sua gente, alguma coisa gostosamente inconfessável. Por isso a mansidão que lembra a dos homens da roça. Por isso o espírito acolhedor, a alegria de viver, o gosto pelas coisas da terra, como o pintado frito, por exemplo, e o chope gelado à beira-rio, dos mais saborosos que já pude provar.
BH, em que pese ser uma cidade muito interessante, sob tantos aspectos, intelectuais e artísticos, sobretudo, é uma cidade pesada e lunar. Você acorda, de manhã, e já depara com o peso de uma cidade que carrega em seu bojo um arquivo histórico incompatível com a leveza do que se supõe ser, digamos, a modernidade.
Fortaleza, por sua vez, para falar de uma cidade que se contrapõe às cidades pesadas, como Belo Horizonte, é uma cidade leve, de uma leveza que a diferencia no conjunto das cidades turísticas brasileiras. E solar. Acima de tudo, é uma cidade solar. Nada a ver com o fato de ser uma cidade em que faz sol o ano inteiro. O adjetivo solar, aqui, serve para definir um traço de caráter, uma cidade em que as pessoas têm o espírito aberto, o sorriso solto. Em Fortaleza, em que pesem os problemas de uma cidade poucas vezes bem assistida administrativamente (para não falar de suas contradições sociais alarmantes), as pessoas se mostram descontraídas, otimistas, confiantes... Felizes, é isto! Há uma certa voluptuosidade contida, um desejo de se dar e de receber, uma ternura inata, um senso de alteridade aguçado. O prazer de viver, de se comunicar com o outro. Se o leitor (ou leitora) desconfia do que estou falando -- e não conhece Fortaleza --, que tal dar um pulinho na capital cearense e curtir um pouco as nossas praias?
Não à toa, Fortaleza é o celeiro de humoristas que é. O povo da cidade é afeito à gargalhada, tem a alma e os braços abertos para o que está por vir. Tira sarro de tudo, de todos. Depois de 30 anos de estrada, de romper os céus do Brasil e do mundo, em viagens sem conta, não tenho dúvidas em afirmar: Fortaleza é a cidade mais acolhedora deste país, talvez a cidade mais acolhedora do mundo.
É claro que há incontáveis outras cidades como Fortaleza, leves e solares, simpáticas, acolhedoras... Mesmo no Nordeste. Salvador, por exemplo, é leve e extremamente solar. Tem uma malandragem que é própria da leveza da cidade, uma malemolência que é a marca do seu perfil solar. Recife, não. Recife é pesada, e lunar, mesmo com o sol e o frevo. Maceió é leve, solar. Aracajú, pesada, lunar. O Rio de Janeiro é a cidade mais leve do Brasil, mais solar, ainda quando castigada por enchentes e tempestades, como a cada início de ano. São Paulo fica a meio termo, mas não consegue esconder o peso do que se mexe em suas entranhas, o acervo indisfarçável de suas imensas contradições. Mas, se se faz esclarecedor o uso de uma metáfora, vá lá, São Paulo é o gordo elegante, endinheirado, às vezes arrogante, mas charmoso, com uma irresistível capacidade de sedução. Sampa, a obra-prima de Caetano que o diga, como diz com perfeição.
O lado mais leve e solar, no entanto, espalha-se pelo interior do Estado, Piracicaba à frente. Pira, como dizem os que lhe são íntimos, é uma cidade leve, levíssima, solar, mesmo quando faz frio, mesmo quando o céu se fecha e as nuvens de chuva se fazem perceber, ameaçadoras. Por isso o timbre vibrante, a dicção um tanto caipira, de sua gente, alguma coisa gostosamente inconfessável. Por isso a mansidão que lembra a dos homens da roça. Por isso o espírito acolhedor, a alegria de viver, o gosto pelas coisas da terra, como o pintado frito, por exemplo, e o chope gelado à beira-rio, dos mais saborosos que já pude provar.
Álder,
ResponderExcluirA leitura que você faz dessas cidades brasileiras é muito interessante. Embora, a maioria citada não as conheço, devo concordar que as cidades estão intimamente imbricadas com seus habitantes. Bom saber que, Fortaleza apesar de suas adversidades é leve e solar!
Abraço,
Olá, Álder!
ResponderExcluirSobre sua crônica: é vero e dou fé! Não retiraria uma única vírgula, mas acrescento uma coisa: São Paulo é a cidade mais lunar de todas, mais mau-humorada, enfim, não tomarei seu tempo com outros adjetivos.
Abraços!