sexta-feira, 5 de junho de 2009

Homens, mulheres

A mulher ou ama ou odeia; não há outra alternativa.
(Publílio Siro, séc. I)

Leitor envia e-mail elogiando o que escrevi dia desses sobre namoro na Internet e, entre curioso e deselegante, quer saber se o tema tem relação com uma experiência pessoal, que a ele se aplica, pelo que pude ver. Indiscrição à parte, acho que somos todos passageiros do mesmo barco e estamos, em proporções variáveis, entregues ao mesmo mar revolto. O bicho pode não ser tão feio assim. Vai ver, cedo ou tarde, o outro ou a outra vai descobrir que a Cinderela ou o Príncipe Encantado define-se pelo próprio status: é Cinderela ou Príncipe Encantado, não existe na vida real. Aí, dirá o leitor, vai ser tarde, Inês é morta. E daí? Mas, isso são outros quinhentos.

A propósito, li há pouco uma crônica interessante sobre o assunto. A gente não dá o devido valor àquilo que tem. A grama do vizinho é mesmo muito mais verde que a nossa. Mulher, então, tem uma tendência irrefreável para invejar a outra. O marido da amiga é sempre "muito mais legal". "Atenta para a forma como pega o talher", "gentil, ele, sempre abre a porta do carro para a mulher entrar", "o cara tem approach", "olha como se veste bem", "como é delicado com a mulher" e coisas que tais. Tudo fachada, minha amiga, quando cai o pano homem é tudo igual: ronca que mais parece o Rei Leão. Detesta lençol arrumadinho por debaixo do edredom, fuma dentro de casa, suja o espelho de creme dental, erra sempre o alvo quando vai fazer xixi, uma lástima. O humor matinal, nem se fale, a toalha molhada largada sobre a cama, sapatos e meias revirados etc. Dá um desconto, coisas de todo homem que se preza.

Mas, para a tranqüilidade dos machões, a moeda tem outra face. Mulher tem TPM, risca a roda do carro no meio-fio, estoura o cartão de crédito, troca um bom Saramago por qualquer Alain de Botton ou manual de auto-ajuda (para não falar das que preferem a revista 'Caras') e, entre oito e nove da noite, meu amigo, nem pensar em contar com ela: "Será que foi a fulana que matou a sicrana?", "eu digo que ele vai terminar com a beltrana" e por aí vai... Um horror. Como comentarista de Big Brother, então. Toda mulher é gasguita quando sente raiva, diz nome feio, descabela-se de ciúme, fala mal da melhor amiga (e ainda excomunga o marido dela). Mulher, por força das circunstâncias, mente para sair por cima... Como diz o Novelinha, amigo meu, mulher é novela também. Chego a arriscar: mutatis mutandis, toda mulher é igual. Mulher se cuida, faz botox, lifting, regime alimentar, malha, para impressionar as amigas. Mulher se veste, já dizia Unamuno, o filósofo espanhol, para as demais mulheres, e não para os homens, nem sequer para aquele a quem mais quer. Estou careca de perceber isso. Tudo, claro, ao lado de serem lindas, maravilhosas, sensacionais... E indispensáveis!

Se é assim, fazer o quê?, desolado, o leitor haverá de perguntar. Complica, não, amigo. Como no poema de Bandeira, dança um tango argentino, que para tudo há de existir um remédio neste mundo. Acho que o que pode salvar um relacionamento é aquele trivial que o homem só valoriza quando fica só. Se o seu casamento ainda está de pé, atenta para o que eu digo: nada no mundo paga aquele carinho quando o sapato aperta e você se sente como o José do poema de Drummond, sozinho no escuro e sem parede nua para se encostar. O sucesso do relacionamento, diz a cronista, "está nos detalhes, na maneira como cada um aceita os defeitos que não foram confessados no primeiro dia, no bom humor para lidar com as coisas que não saíram como o planejado, no apoio que se dá e se recebe incondicionalmente, estejamos no auge ou na beira do abismo."

Perfeito, bate. Agora, se o seu barco está fazendo água - e sua mulher parece mesmo não estar nem aí, paciência. É hora de ver se ela não está indo com muita freqüência ao computador.

P.S. Esta crônica, quando da sua publicação, foi objeto da maior incompreensão por parte de algumas leitoras, que não atentaram (ou não quiseram atentar), para o fato de que se trata de uma grande brincadeira.

2 comentários:

  1. Alder,
    Me lembrei de uma amiga que, precisando tomar uma decisão difícil, mas com medo de enfrentá-la, tirou a tarde pra desanuviar. Deitou no sofá com uma garrafa de 2 litros de coca-cola, uma caixa de bombons e a Caras recém-lançada. Fiquei horrorizada, mas lendo seu texto acabei entendendo o que não me passou pela cabeça: era TPM.... puta TPM.....
    beijão pra vc!

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  2. Então, Ude? Acho que sei de quem se trata (risos), mas não vou arriscar. Obrigado pela visita. Volte sempre! Bjs

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