O inferno são os outros. Esta frase é dita por uma personagem de Jean-Paul Sartre na peça Entre Quatro Paredes. Na linha do que professou o filósofo francês no importante livro O Ser e o Nada, serve para sintetizar a conhecida tese de Sartre: a vida do homem está condenada ao julgamento que outro homem faz de si. Trocadilho à parte, é isso que me passava pela cabeça ao assistir, pela tevê, às sessões do Senado em que está em pauta o julgamento de Renan Calheiros. Via-se que o antigo homem forte das Alagoas encontrava-se no inferno. Não o inferno da mitologia cristã, claro, mas outro, o inferno de que nos fala Paul Sartre.
Não que não tenha feita por merecer. Dias desses, valendo-me de uma carta aberta supostamente escrita por Tereza Collor, manifestei neste mesmo espaço a minha indignação com esse estado de coisas. Semana passada, novamente, assinando o artigo Farinha do mesmo saco, sobre a abstenção do senador Aluízio Mercadante na sessão em que Calheiros foi absolvido por pequena maioria. Mas é que chego a sentir cheiro de enxofre pelo monitor da tevê, a visualizar os entrechoque de garfos e chifres de muitos diabos. Numa palavra, quem não sabe que ali pouca gente tem moral para julgar quem quer que seja? Que Renan deveria ter caído há mais tempo, é o óbvio ululante. Aliás, nem lembro quando usei este adjetivo pela última vez [risos].
Não bastasse esse jogo de hipocrisia e oportunismo disputado à luz dos spots da tevê, invadindo os nossos lares com a maior sem-cerimônia, vem a público, numa “coincidência” de marketing da editora Abril, a edição de Playboy com ninguém menos na capa que Mônica Veloso, que além de garota de frete revela-se possuidora de um senso de oportunismo digno de nota. Além de bonita é articulada: vai escrever um livro, atuar na imprensa etc. Quanto à revista, pois não é que em menos de dez horas, só na banca em frente à entrada do Congresso, venderam-se 150 exemplares. Pasmem! Cento e cinqüenta, gente, em dez horas. E sabe para quem, entre raríssimas exceções, para os senhores senadores, sedentos de curiosidade para ver a ex-amante de Calheiros, agora bem mais à vontade.
Teve gente (assim mesmo, ferindo a gramática) que levou três exemplares, sabe Deus com que intenções. Li na Folha um depoimento do proprietário, José Erinaldo, 33, sobre isso: “Eles não dizem pra quem é, mesmo que a gente pergunte”. Como se vê, a figura antes recatada do senador permite hoje intimidades como essa. A coisa anda mesmo mal em termos do Congresso Nacional.
Em tempo, a capa do referido jornal escancarava uma foto da senadora Ideli Salvatti “curiando” as fotos de Veloso, que, justiça se faça, me pareceram para além de razoáveis [risos]. Não foi à toa que o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) comentou, salivando: “Vou comprar agora mesmo, senão esgota”. Mas o interesse dos abnegados congressistas, por certo, vai além da sensualidade da ex-amante de Renan: querem saber em que sentido ela poderá contribuir com o “julgamento” do presidente da Casa: “Quero saber o que ela diz”, afirma Garibaldi. Mas, bom mesmo, foi a sapientíssima reflexão de Marurício Rands (PT-PE): “É uma mulher bonita, mas você vê que tem muito recurso de computador”. Tudo isso, leitor, à entrada do Congresso, minutos antes da sessão. Não chega a ser engraçado?
Não que não tenha feita por merecer. Dias desses, valendo-me de uma carta aberta supostamente escrita por Tereza Collor, manifestei neste mesmo espaço a minha indignação com esse estado de coisas. Semana passada, novamente, assinando o artigo Farinha do mesmo saco, sobre a abstenção do senador Aluízio Mercadante na sessão em que Calheiros foi absolvido por pequena maioria. Mas é que chego a sentir cheiro de enxofre pelo monitor da tevê, a visualizar os entrechoque de garfos e chifres de muitos diabos. Numa palavra, quem não sabe que ali pouca gente tem moral para julgar quem quer que seja? Que Renan deveria ter caído há mais tempo, é o óbvio ululante. Aliás, nem lembro quando usei este adjetivo pela última vez [risos].
Não bastasse esse jogo de hipocrisia e oportunismo disputado à luz dos spots da tevê, invadindo os nossos lares com a maior sem-cerimônia, vem a público, numa “coincidência” de marketing da editora Abril, a edição de Playboy com ninguém menos na capa que Mônica Veloso, que além de garota de frete revela-se possuidora de um senso de oportunismo digno de nota. Além de bonita é articulada: vai escrever um livro, atuar na imprensa etc. Quanto à revista, pois não é que em menos de dez horas, só na banca em frente à entrada do Congresso, venderam-se 150 exemplares. Pasmem! Cento e cinqüenta, gente, em dez horas. E sabe para quem, entre raríssimas exceções, para os senhores senadores, sedentos de curiosidade para ver a ex-amante de Calheiros, agora bem mais à vontade.
Teve gente (assim mesmo, ferindo a gramática) que levou três exemplares, sabe Deus com que intenções. Li na Folha um depoimento do proprietário, José Erinaldo, 33, sobre isso: “Eles não dizem pra quem é, mesmo que a gente pergunte”. Como se vê, a figura antes recatada do senador permite hoje intimidades como essa. A coisa anda mesmo mal em termos do Congresso Nacional.
Em tempo, a capa do referido jornal escancarava uma foto da senadora Ideli Salvatti “curiando” as fotos de Veloso, que, justiça se faça, me pareceram para além de razoáveis [risos]. Não foi à toa que o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) comentou, salivando: “Vou comprar agora mesmo, senão esgota”. Mas o interesse dos abnegados congressistas, por certo, vai além da sensualidade da ex-amante de Renan: querem saber em que sentido ela poderá contribuir com o “julgamento” do presidente da Casa: “Quero saber o que ela diz”, afirma Garibaldi. Mas, bom mesmo, foi a sapientíssima reflexão de Marurício Rands (PT-PE): “É uma mulher bonita, mas você vê que tem muito recurso de computador”. Tudo isso, leitor, à entrada do Congresso, minutos antes da sessão. Não chega a ser engraçado?
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