Não sou um bom conhecedor de cinema, mas sou apaixonado por filmes. Quando gosto, quando um e outro me tocam fundo, vejo-os vezes sem conta. Há filmes que vejo sempre que posso, dez, quinze vezes. Não é nada, se comparado ao que declarou o jornalista Lúcio Brasileiro acerca de Casablanca, a que já assistiu mais de mil vezes. Pasmem, mil vezes. Fico nos meus números modestos. Cinema Paradiso é um vício e me emociona sempre que revejo esta verdadeira obra-prima de Giuseppe Tornatore. Esta semana revi Paris, Texas, de Wuim Wenders, de uma simplicidade desconcertante. Quase não há cenário, efeitos especiais ou qualquer sofisticação técnica. Apenas fala, à perfeição, das grandes dores humanas, da solidão, das perdas. Essas coisas que, cedo ou tarde, movem as nossas vidas. A grande arte, na minha modesta opinião, é isto.
O roteiro, escrito por Sam Shepard, retoma um tema recorrente na filmografia de Wenders, um artista obcecado pelo sofrimento do homem marginalizado por alguma razão. Travis, a personagem que aparece caminhando no início do filme, jeans e boné de beisebol, barba por fazer e aparentemente sujo, foi casado um dia, teve mulher, teve filho e uma vida normal. Mas tudo deu errado para esse homem amargurado que caminha como que em busca da identidade perdida. É o tema desse clássico do novo cinema alemão.
Exausto, Travis chega a um posto de gasolina e desmaia, mas é localizado por um irmão, a quem se recusa falar sobre o que se passa com sua vida. Quando, enfim, decide contar sua história, compreende-se o seu drama, a sua crise existencial. Na contramão do que esperamos nas primeiras cenas de Paris, Texas, Travis não é um louco, apenas um homem devastado pela solidão. Tão despojado e tão intenso o filme de Wim Wenders.
Como é recorrente na obra desse cineasta fenomenal, Paris, Texas mostra-nos o que já sabemos da vida, mas o faz com a sensibilidade do gênio. Os filmes de Wenders deslizam à nossa frente, mostram os grandes conflitos do homem, vai fundo no que há de mais complexo nas suas emoções, incertezas, angústias e esperanças. Não trazem surpresa, não empolgam pela força de qualquer imagem ou pelo futurismo de suas abordagens. E, no entanto, fazem o que deve fazer toda arte verdadeira, proporcionam-nos um tipo de catarse dos nossos dramas, das nossas perdas e eternas buscas. Encontros, desencontros, perdas e ganhos compõem a matéria de que se vale o cineasta para embelezar o homem, aperfeiçoando-o. A vida, contada a partir do olhar de um grande artista. A vida, cercada de medos e de solidão.
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