Li, na revista Época desta semana, uma matéria interessante sobre relacionamentos amorosos que duram e permanecem estáveis durante muitos anos. A reportagem faz alusão a celebridades que continuam casadas 20, 30 anos. Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi, por exemplo, que se dizem felizes e atraídos, em que pesem as três décadas juntos.
Sempre tive uma grande admiração pelas pessoas que conseguem manter acesa a chama da paixão anos e anos, e continuam ali, na base do 'só vou se você for', como na canção de Duran. Desde muito jovem exaltei essa capacidade cada vez mais rara nos dias de hoje. Quando o assunto entrava em pauta, lembro que citava invariavelmente dois casais famosos que me chamavam a atenção, pela sintonia e recíproca admiração que tornavam públicas nas entrevistas, mesas-redondas etc. O primeiro deles, os atores Tarcísio Meyra e Glória Menezes, permanece firme e, ontem, passando diante da tevê, vi-os atuando juntos, maravilhosos. O segundo, separou-se há coisa de uns quatro, cinco anos. Trata-se de Chico Buarque e Marieta Severo, que tentam, ainda, reconstruir suas vidas amorosas em lados diferentes. Tentam, é o que me consta.
Segundo a revista, pesquisas recentes apontam para a compatibilidade genética dos amantes como fator decisivo para o sucesso da relação, havendo, hoje, o que me deixou estarrecido, empresas bem-sucedidas que vivem, exclusivamente, da avaliação do DNA dos que se apaixonam a fim de prever a possibilidade de darem certo 'até que a morte os separe'. Fiquei imaginando: a que ponto chegamos, meu Deus. O amor vai se tornando uma mercadoria, você passa no supermercado, vê um produto novo, lê as informações da embalagem, analisa a relação custo/benefício e decide levar ou não. Exagero à parte, é nisso que querem transformar essa busca eterna da felicidade a dois que movimenta a vida de homens e mulheres através dos tempos.
No filme Closer - Perto Demais, explora-se mais ou menos isso. Quatro pessoas se relacionam mas ninguém está satisfeito e todos buscam algo que sequer sabem bem o que seja. Acho que o filme levanta uma reflexão interessante sobre o mito da paixão nos dias de hoje. A gente vai procurando, fazendo trocas e, não deu certo, cada um vai cuidar da sua vida. A banalização dessa procura vai desgastando as pessoas naquilo que têm de mais legítimo: o direito de ser feliz. As facilidades dessa experiência e a vastidão do mercado de 'amores', opções e consciência de que o descompromisso é o grande segredo, quem sabe não explica essa esdrúxula novidade do mercado: DNA's passionalmente compatíveis.
E não se toca numa questão que me parece fundamental em relação a isso, por ultrapassada que pareça ser a minha opinião: o segredo da felicidade a dois deveria estar centrado na capacidade de renúncia em relação a pequenas coisas que, via de regra, constituem a gota-d'água para a separação. Não temos sido capazes de exercitar a tolerância e parecemos encantados com a equivocada compreensão do que é a liberdade humana: - "Não está bom, faz a mala e vai. Ah, não esquece de bater a porta". Mas um dia a ficha haverá de cair e só então você compreenderá: Ninguém, isoladamente, reúne em si todas as qualidades para fazer, por inteiro, o outro feliz. É olhar no espelho e ver.
17 de janeiro de 2009
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