Leitora encontra-me na rua e dispara: - "Adorei a crônica sobre a paixão. Quero ler mais sobre... (risos)." Poupando-me da obrigação, recomendo-lhe o livro Paixões, da escritora espanhola Rosa Montero, autora do belíssimo A Louca da Casa. Curiosa, não se contenta: - "Fala-me do livro, vai!" Estávamos na entrada de um banco, bem à frente de uma fila quilométrica e o entusiasmo da amiga, além de tornar pública sua suposta paixão, fez-me lembrar a torcedora da crônica de Nelson Rodrigues. Mas sobre isso escreverei outro dia. Voltemos a Rosa Montero.
Pois bem. Rosa Montero é a Martha Medeiros da Espanha. Lidíssima (e muito bonita, diga-se em tempo), Montero começou sua carreira brilhante como jornalista, dedicando-se a escrever para os principais jornais de Madri, onde nasceu. Hoje é colunista exclusiva do El País. Como ficcionista estreou com o romance Crônica do Desamor, em 1979. Há quatro ou cinco anos vem sendo traduzida para o português, razão por que recomendo, além do já mencionado A Louca da Casa, o delicioso História de Mulheres.
Em Paixões, para não esquecer do que me pede a leitora supostamente apaixonada, Rosa Montero arrola a história da vida amorosa de casais famosos, de Leon e Sônia Tolstói a Elisabeth da Áustria e o imperador Francisco José, passando pelo excêntricos John Lennon e Yoko Ono. Histórias interessantes, como se vê. O mais relevante da obra, ou mais curioso, talvez seja o adjetivo mais adequado, é que Montero põe por terra o mito do amor perfeito que gira em torno dessas celebridades. Em outros termos, como diz Caetano, "de perto, ninguém é normal."
Aliás, já na introdução a autora arrisca uma generalização inquietante: - "É que todos somos tentados a acreditar que o próximo é capaz de viver a plenitude que sempre se esquiva de nós mesmos: o amor absoluto, a felicidade completa." Perfeito. Acho que, no mundo midiático em que vivemos, sobretudo, somos condenados a projetar nos outros algumas das nossas mais caras fantasias, enamoramentos, paixões. Esquecemo-nos de nós, numa palavra. Não à toa, sobremaneira para as pessoas menos preparadas culturalmente, passam a interessar os reality shouws da vida, as revistas de futilidades ou a sub-literatura.
Delicioso, o livro de Rosa Montero pode levar a leituras equivocadas, uma vez que, na sua totalidade, os casos evidenciam amores desajustados, muitos deles doentios. É que falar da paixão, diz a escritora, "é nomear o caos." Certamente. É assim que chama a atenção para uma obviedade que quase nunca se percebe: - "... a essência do passional é a alienação que produz: o apaixonado sai de se mesmo e se perde no outro, ou, melhor dizendo, naquilo que imagina ser o outro." Nesta perspectiva, já dizia Catão que a alma de quem ama hab ita o corpo alheio.
Seja como for, Paixões é um livro maravilhoso. Se se volta para o que houve de mais doloroso na intimidade desses casais, o que, como disse, pode refletir um certo negativismo da autora em torno desse sentimento que é a razão mesma de nossas vidas, é que Montero, na linha de Denis de Rougemont em seu História do Amor no Ocidente, está atenta para o fato de que "em toda história de amor, mesmo na mais realizaa e feliz, há sempre um ingrediente de tristeza, o sentimento inexorável da perda."
Mas, para não desapontar a leitora amiga, se é verdade que esta sensação mágica um dia acaba, pode resultar disso uma outra dimensão do mesmo sentimento, algo próximo de uma amizade, de um companheirismo, de uma cumplicidade não menos encantadora. Sem prescindir do sexo, claro, ingrediente indispensável para manter acesa a maravilhosa chama.
Pois bem. Rosa Montero é a Martha Medeiros da Espanha. Lidíssima (e muito bonita, diga-se em tempo), Montero começou sua carreira brilhante como jornalista, dedicando-se a escrever para os principais jornais de Madri, onde nasceu. Hoje é colunista exclusiva do El País. Como ficcionista estreou com o romance Crônica do Desamor, em 1979. Há quatro ou cinco anos vem sendo traduzida para o português, razão por que recomendo, além do já mencionado A Louca da Casa, o delicioso História de Mulheres.
Em Paixões, para não esquecer do que me pede a leitora supostamente apaixonada, Rosa Montero arrola a história da vida amorosa de casais famosos, de Leon e Sônia Tolstói a Elisabeth da Áustria e o imperador Francisco José, passando pelo excêntricos John Lennon e Yoko Ono. Histórias interessantes, como se vê. O mais relevante da obra, ou mais curioso, talvez seja o adjetivo mais adequado, é que Montero põe por terra o mito do amor perfeito que gira em torno dessas celebridades. Em outros termos, como diz Caetano, "de perto, ninguém é normal."
Aliás, já na introdução a autora arrisca uma generalização inquietante: - "É que todos somos tentados a acreditar que o próximo é capaz de viver a plenitude que sempre se esquiva de nós mesmos: o amor absoluto, a felicidade completa." Perfeito. Acho que, no mundo midiático em que vivemos, sobretudo, somos condenados a projetar nos outros algumas das nossas mais caras fantasias, enamoramentos, paixões. Esquecemo-nos de nós, numa palavra. Não à toa, sobremaneira para as pessoas menos preparadas culturalmente, passam a interessar os reality shouws da vida, as revistas de futilidades ou a sub-literatura.
Delicioso, o livro de Rosa Montero pode levar a leituras equivocadas, uma vez que, na sua totalidade, os casos evidenciam amores desajustados, muitos deles doentios. É que falar da paixão, diz a escritora, "é nomear o caos." Certamente. É assim que chama a atenção para uma obviedade que quase nunca se percebe: - "... a essência do passional é a alienação que produz: o apaixonado sai de se mesmo e se perde no outro, ou, melhor dizendo, naquilo que imagina ser o outro." Nesta perspectiva, já dizia Catão que a alma de quem ama hab ita o corpo alheio.
Seja como for, Paixões é um livro maravilhoso. Se se volta para o que houve de mais doloroso na intimidade desses casais, o que, como disse, pode refletir um certo negativismo da autora em torno desse sentimento que é a razão mesma de nossas vidas, é que Montero, na linha de Denis de Rougemont em seu História do Amor no Ocidente, está atenta para o fato de que "em toda história de amor, mesmo na mais realizaa e feliz, há sempre um ingrediente de tristeza, o sentimento inexorável da perda."
Mas, para não desapontar a leitora amiga, se é verdade que esta sensação mágica um dia acaba, pode resultar disso uma outra dimensão do mesmo sentimento, algo próximo de uma amizade, de um companheirismo, de uma cumplicidade não menos encantadora. Sem prescindir do sexo, claro, ingrediente indispensável para manter acesa a maravilhosa chama.
Show, mestre...
ResponderExcluirObrigado, Jorge. Sua visita ao blog é um privilégio. Volte mais vezes. Abraço!
ResponderExcluirAlder,
ResponderExcluirQuando você vier ao Recife pretendo fazer igualzinho a nossa amiga que lhe atropelou na
na fila do banco, com pequena mas significativa
diferença: na mesa de bar.
Assim que puder vou ler o livro de Rosa Montero.
Capitão Libar, do Recife(falando para o mundo)
Agradeço a visita ao blog. E leia Rosa Montero, se possível, começando pelo livro A Louca da Casa, em que faz belíssimas reflexões sobre a imaginação e o ato de criar artisticamente. Saudações!
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